me salva do apuro
me conduz
meu lado escuro
é outra luz
desafio pequeno
& grande até
conquistar o terreno
do que se é
sempre me trouxe
alegria & tormento
brotar é doce
& violento
agora de alma inteira
sigo sem temor
eu era a última barreira
a transpor
vai meu trem
que a trilha é minha
me leva a um ponto além
de toda linha
deriva dura
audaz
demanda menos bravura
que paz
palavra minguada
sentido agudo
versinho é nada
de onde sai tudo
sou
mistura vadia
de dor
& alegria
meu verso me alegra
ou não
à margem de regra
& transgressão
faço pouco
torço o nariz
pra grito oco
que nada diz
fala mansa
gesto parado
como me cansa
ser civilizado
de ira não sou
forro
se acalmo o furor
me acamo & morro
bem tarde
mas longe do fim
entrei na vida que arde
fora de mim
me espalho
me invento
em frangalhos
& monumento
tudo consumido
só não se perdeu
um último resíduo
eu
meu verso condiz
com outra dicção
sou minha própria matriz
& padrão
em plena peleja
no horror da guerra
o céu beija
a terra
santuário
errante
meu verso precário
& exuberante
epifania
em alma indefesa
me asfixia
tanta beleza
sou eu meu brinquedo
que monto & desmonto
me arredo de enredo
em que tudo está pronto