quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Distorcida torcida

Brasileiro adora discutir futebol.
Porque gosta de futebol.
Porque é passional.
Mas, de uns tempos para cá, a crônica futebolística se intelectualizou e, por isso, ficou mais chata.
E as discussões nos bares, na escola, no trabalho, em casa, seguem o mesmo rumo: é análise tática pra cá, estatística pra lá e biografias, históricos etc.
Surgiu a figura do intelectual do futebol, aquele cara que tem time, sim, é torcedor, sim, mas nem tanto.
O intelectual do futebol reconhece com toda a franqueza e altivez as mazelas do seu time. Chega ao absurdo de dizer, quando é o caso, que quem merece o título é o time arquirrival.
Mas o brasileiro gosta de discutir.
O brasileiro é passional.
Se a paixão está perdendo espaço na discussão futebolística, que espaço então resta ao brasileiro para exercer sua passionalidade?
Que tal a política?
Que tal a sucessão presidencial?
Que tal então transformar o debate eleitoral num fanatismo obtuso, digno de torcidas organizadas?
Os mais velhos se lembram de Geraldo José de Almeida, uma espécie de locutor televisivo oficial do tempo do regime militar.
Os mais velhos se lembram do modo como ele narrava o gol.
Talvez não venha a ser tanta surpresa, caso se confirme o favoritismo da candidata petista, algum apresentador de TV anunciar sua vitória assim:
– Olha lá, olha lá, olha lá, olha lá, no placar do TSE! Diiiiiiiiiiiiiiiilma, garota das alterosas e dos pampas, presideeeeeeeeeeeeeeeente do Brasil!

Soa familiar essa história?

Os partidos viraram meros comitês eleitorais.
Os comitês eleitorais são controlados por um ou no máximo uns poucos indivíduos.
Esses poucos indivíduos, quando precisam escolher os seus sucessores, naturalmente escolhem alguém em quem confiam.
Na maioria das vezes, os mais confiáveis são seus parentes.
Mesmo quando não se trata de uma transferência direta de poder, o parente do figurão já encontra um ambiente de adesismo (para não dizer puxa-saquismo) bastante favorável.
Às vezes, o herdeiro político tem méritos inegáveis; outras vezes, é um mero caroneiro.
Deem uma examinada na política brasileira.
Confiram se não está se expandindo a prática da familiarização partidária.
Os partidos oligárquicos sempre se comportaram assim.
No DEM, por exemplo, Rodrigo Maia, Paulo Bornhausen e ACM Neto se esforçam para herdar o protagonismo, respectivamente dos pais e do avô.
Aqui em Brasília, temos a candidatura aberrante de Weslian Roriz, que não é filha, mas é esposa.
Mas nos partidos não oligárquicos a prática parece se disseminar.
Aécio Neves, do PSDB, é neto de Tancredo.
Bruno Covas, do PSDB, neto de Mário Covas, foi o deputado estadual mais votado de São Paulo.
Brizola Neto, herdeiro de Leonel Brizola, não conseguiu se reeleger, mas foi deputado de destaque do PDT e tudo indica que se manterá ativo na política nacional.
Eduardo Campos, neto de Miguel Arraes, é presidente nacional do PSB.
Zeca Dirceu, filho de Zé Dirceu, se elegeu deputado federal pelo PT do Paraná.
Há muitos outros exemplos.
Um é particularmente preocupante: o da candidata que está prestes a se eleger presidente do Brasil.
Lula não é pai dela, é só padrinho; ela, portanto, não é filha, é só afilhada.
Mas o método de escolha foi em tudo semelhante à transferência familiar do poder.
Morto o PT, por desafagem programática e pelo escândalo do mensalão, coube a Lula escolher alguém da sua estrita confiança – escolha soberana, unipessoal.
Esse é um dos aspectos mais tristes deste soturno segundo turno.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Carta descartável - Ao livre Veloso

O livre Veloso é nulo neles.
O livre Veloso me lembra o free Freyre, outro nordestino autodestinado.
Ambos além das listas demarcadas por enquadramentos paulistas e outros que tais; além dos mercados acadêmicos pré-prontos.
São livres e pronto.
O livre Veloso é exótico endêmico.
Ambíguo umbigo que, num segundo, se abre pro mundo.
Motivo vivo.
Qual mesmo? Tanto não pergunto.
Vamos juntos: ele, anulação; eu, manulação.
A vaca profana do chifre justo, o irritante mutante – ora savana, ora arbusto –, se não salta pra fora e acima da manada, quando nada se lança – direto pulo! – em voto inquieto, nulo.
Nulo neles, em ti te cai bem, Caê.
Em mim também.

Manoel Rodrigues.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Tão rude, tão belo

Sócrates buscava a Verdade.
Os sofistas construíam verdades.
O método de Sócrates: a dialética.
A arma dos sofistas: a retórica.
O contato de Sócrates com os deuses era o dáimon.
O contato dos sofistas com o mundo eram as aulas.
O médium da Verdade é necessariamente rude; essa rudeza fica clara quando acusamos alguém, nos dias de hoje, de "dono da Verdade". O dono da Verdade rudemente nos cassa o direito de construir verdades.
O construtor de verdades é necessariamente erudito, pois, como não se apoia no daimon ou nos deuses, precisa se valer do conhecimento construído por outras pessoas. O construtor de verdade nos enreda em um emaranhado de conhecimentos e verdades e nos desencanta da possibilidade de mirar a Verdade.
Sócrates ensejava a abertura ao divino, que era, ao mesmo tempo, natural.
Os sofistas produziam sofisticações, que eram, por isso mesmo, artificiais.
A abertura ao divino tinha a sua graça.
As sofisticações, a sua beleza.
Não posso deixar de pensar, no contexto desta eleição, que um pastor que deblatera contra o aborto está para Sócrates, assim como um marqueteiro que traça a estratégia discursiva do candidato está para um sofista.
Porém, também não posso deixar de pensar que falta muito para o tal pastor recuar até a graça do rude Sócrates, assim como falta muito para o marqueteiro avançar até a beleza do gorgeous Górgias. 

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Que arma contra esta armadilha?

Economistas falam sobre armadilha da pobreza.
Eu falo também sobre outra armadilha: a da ignorância.
Candidatos, em geral, não estudam.
Jornalistas que os entrevistam, em geral, não estudam.
Eleitores que assistem ao debate, em geral, não estudam.
Professores que deram aula a candidatos, jornalistas e eleitores, em geral, não estudam.
Ministro da Educação, que tenta mudar essa realidade, em geral, não estuda.
Ministro da Cultura, que às vezes tenta dar uma forcinha, em geral, não estuda.
Consultores contratados para fazer uma análise abrangente do quadro, em geral, não estudam.
Candidatos, jornalistas, eleitores, professores, ministros e consultores que estudam quase não são ouvidos.
Blogueiro que passa boa parte do seu tempo falando sobre a armadilha da ignorância acaba estudando menos ou parando de estudar.
E você, o que acha que falta dizer sobre falta de estudo?

A morte do passaporte (1)

Havia as regras do petróleo definidas por FHC.
Aí descobriram o pré-sal.
Óleo excelente, abundante.
Nas primeiras licitações para a exploração do pré-sal, foram seguidas as regras de FHC.
Mas alguém disse: – Parem as licitações! Precisamos de novas regras.
Foi o governo Lula que disse.
As regras de FHC não eram as melhores para o Brasil. Segundo essas regras, o petróleo era da empresa exploradora.
Era preciso definir que o petróleo fosse de novo nosso; era preciso definir regras que garantissem que a maior parte da riqueza obtida ficasse com o poder público.
Afinal, era óleo excelente, abundante; era, afinal, nosso passaporte para o futuro.
As regras de FHC tinham mesmo que ser substituídas, em nome do Brasil, do povo brasileiro.
Eu acreditei que o grito de Lula e Dilma ("Parem as licitações") fosse mesmo em nome do Brasil, do povo brasileiro.
Mas, hoje, eu vejo que não.
Hoje eu vejo que as novas regras não favorecem o poder público.
Comparadas com as regras anteriores, para o poder público, para o Brasil, para o povo brasileiro, as novas regras representam uma troca de seis por meia dúzia.
Mas em nome de quem foi dado o grito?
Em nome da Petrobras.
Mas a Petrobras não é do poder público, do Brasil, do povo brasileiro?
A Petrobras é uma empresa majoritariamente privada.
Isso significa que, se as novas regras do pré-sal estão privilegiando a Petrobras, uma parte excessiva da riqueza que ali está irá parar nas mãos de investidores privados.
Mas não é o governo brasileiro que gerencia a Petrobras?
Sim, mas a maior parte dos lucros e dividendos obtidos pela empresa vão parar nas mãos de investidores privados.
O governo pode mandar e desmandar na Petrobras, mas nada muda uma verdade econômica muito simples: a maior parte dos lucros e dividendos da Petrobras vai parar nas mãos de investidores privados.
Repito: o governo Lula está mudando as regras definidas por FHC para criar novas regras que, em vez de beneficiar o poder público, o Brasil, o povo brasileiro, estão beneficiando uma empresa majoritariamente privada.
A mudança nas regras do pré-sal não foi uma vitória do Brasil, foi uma vitória da Petrobras.
Boa parte do nosso pré-sal está indo para o sal.
O passaporte para o futuro está sendo rasgado.
Dilma foi figura-chave nesse processo.
Serra nada disse.
Nulo neles.
E, pra você, o que falta dizer?

domingo, 24 de outubro de 2010

Boas-Vindas

Para Dâmares, Gerhard, Celso Vingador, Alessandra.

Obrigado, pessoas!

Aumenta a responsabilidade do Falta Dizer.

bç a todos.

Muita alma nessa hora!

Campanha eleitoral pode ser um momento de grande aprendizado.
Mas é preciso não parar de pensar.
Os cabos do PSDB pouco pensam e cuidam quase somente do menoscabo do PT.
Os cabos do PT pouco pensam e cuidam quase somente do menoscabo do PSDB.
A continuar assim, vão dar cabo de nossa política.
Atuam como  zumbis, corpos quase mortos, sem substância, sem alma, sem nada.
Nos Estados Unidos de 2008, Obama trouxe vida e alma para a política daquele país.
Aqui, os submilitantes se consomem no consumo de clichês.
Nulo neles.
E, pra você, o que falta dizer?

É só o fim

Ninguém mais maquiavélico que nossa mídia.
Se não, vejamos.
"A mídia" é tradução de "the media".
"The media" quer dizer "os meios".
A Carta Capital não é uma revista jornalística, mas um panfletaço semanal que persegue um fim: a vitória de Dilma.
A Veja não é uma revista jornalística, mas um panfletaço semanal que persegue um fim: a derrota de Dilma.
O meio Carta Capital se justifica, portanto, pelo fim que persegue.
O meio Veja se justifica, portanto, pelo fim que persegue.
Os distintos fins justificam os distintos meios.
Viver para eleger Dilma é o fim da picada.
Viver para derrotar Dilma, também.
E nós no meio desse picadeiro.
Ai de nós.
Nulo neles.
E, pra você, o que falta dizer?

A toque do choque

Não é a primeira vez que o Brasil cresce em ritmo acelerado.
Antes da Independência, enquanto a família real portuguesa estava no Brasil, o Rio de Janeiro, por exemplo, era um de noite, outro de dia, e já outro na noite seguinte, e assim por diante.
O mesmo se pode dizer do Brasil urbano dos anos Vargas e dos anos de chumbo, ou do Brasil rural em meados dos anos 1970, com a chamada Revolução Verde.
Também não é a primeira vez que o Brasil faz crescer amplamente sua classe média.
Isso ocorreu no ciclo do ouro, na região das minas.
Ocorreu também no ciclo da borracha, em Manaus.
Ocorreu ainda nos períodos de crescimento acelerado descritos acima.
Agora, mais uma vez, o Brasil está em estado de choque.
O país novamente cresce e amplia fortemente sua classe média.
O choque atual pode, com algum simplismo, ser chamado de China.
A China compra muito do Brasil, e isso bomba nossa economia.
A China vende muito para o mundo, acumula reservas estratosféricas, empresta para o mundo; esse crédito chega ao Brasil e bomba nossa economia.
Em todas as outras vezes, os choques que bombearam e bombaram nossa economia cessaram, o que fez nossa economia murchar.
Em nenhuma das outras vezes, o momento positivo foi visto como uma oportunidade para nos transformar em uma sociedade e uma economia do conhecimento.
Uma sociedade e uma economia do conhecimento são capazes de prosperar mesmo sem choques positivos.
Desta vez, nenhum dos candidatos à Presidência, tampouco as forças políticas que eles representam, revelam uma mínima compreensão da questão e um mínimo preparo para impulsionar o Brasil rumo a uma sociedade e uma economia do conhecimento.
Tudo indica que, com esses líderes que dominam nossa política, nossa economia vai, lá adiante, novamente murchar.
Nulo neles.

sábado, 23 de outubro de 2010

Des-Mea Culpa?

Pessoas, sinceramente: me senti um tonto por ter feito um mea culpa na história da bolinha de papel/fita crepe.
Tá certo que, mesmo considerando convincente a versão do JN, não achei o fato grave e condenei a exploração política da suposta agressão.
Porém, diante dos argumentos de que a Globo montou aquilo tudo, o que pensar?
Caramba....
A que ponto chegamos?
Em que acreditar?
O que dizer?
Ah! Já sei:
Nulo neles.
E, pra você, o que falta dizer?

A gente quer outra agenda

Mantenho este espaço porque acredito que, na arena política brasileira, faltam vozes a favor de uma agenda ao mesmo tempo republicana, nacional, democrática, social e ecossustentável.
Faltam vozes que adaptem a velha plataforma social-liberal ou social-democrática às demandas atuais por um Estado mais eficiente e efetivo e pelo desenvolvimento ambientalmente sustentável.
Faltam vozes que defendam o que chamo de convergência sustentável, ou seja, o processo de equiparação dos níveis de riqueza entre todos os povos, com base em produção e consumo ecointeligentes.
As duas principais forças políticas do país, embora tenham seus méritos (méritos sim, porque não acredito que PSDB ou PT sejam Satã redivivo), são forças políticas excessivamente contaminadas pelos vícios do elitismo e do populismo.
Pecam na agenda republicana porque uns e outros aparelham o Estado e se aliam a veículos de comunicação ultramanipuladores e sem zelo pela pluralidade.
Pecam na agenda nacional porque uns são subservientes; os outros são inescrupulosos, pois pisoteiam valores humanísticos e são sem critério, pois falam fino com a Bolívia e engrossam com os Estados Unidos.
Pecam na agenda democrática, porque, como elitistas, fingem que pode haver democracia sem equidade social, ou porque, como esquerdistas de velha cepa, caem no culto da personalidade, como aconteceu no stalinismo, no maoísmo, no castrismo e, guardadas todas as diferenças, ocorre também no lulismo; e a democracia, amigos, por definição, não é personalista.
Pecam na agenda social, seja porque simplesmente a desprezam, seja porque não entendem que o caminho é a educação e uma vida baseada numa sociabilidade construída sobre regras universais.
Pecam na agenda da ecossustentabilidade, porque simplesmente não pararam para formular algo que se possa chamar de agenda nesse campo.
Então...
Nulo neles.
E, pra você, o que falta dizer?

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A aldeia e a cidade

Na aldeia, a Palavra.
Na cidade, palavras.
Na aldeia, o sagrado originário.
Na cidade, o profano e os sagrados vicários.
Antígona é um médium da Palavra.
Por isso, é sábia.
Agave é um médium da Palavra.
Por isso, é louca.
Essa migração do sentido da Palavra, da sabedoria para a loucura, marca a passagem de Sófocles, autor de Antígona, para Eurípides, autor de As Bacantes.
Sófocles quer que a Palavra perdure.
Eurípides quer que as palavras proliferem.
Sófocles é a nostalgia do encanto da aldeia.
Eurípides, a alegria modesta da cidade.
Sófocles prenuncia Heidegger.
Eurípides, Deleuze.
Não acho possível me desgarrar do arcaico Sófocles.
E me identifico tanto com o desencantado Eurípides.
Por isso não leio Antígona sem ler As Bacantes.
E não leio As Bacantes sem ler Antígona.
E você, o que acha que falta dizer Palavra e palavras?

Alerta amarelo na campanha do Agnelo

O que foi esse programa de hoje da candidata Weslian?

1) Um ataque q.muito provavelmente vai retornar ao ar, só que de forma mais didática.
2) Algo que vai provocar algum nível de defecção nas intenções de voto em Agnelo, incapaz, contudo, de reverter sua vitória.
3) Se for, entretanto, um fio que vai puxar novos conteúdos que confiram credibilidade ao que foi dito hoje, aí sim a eleição começará a ficar em aberto novamente, com a volta da candidata Weslian ao páreo.
4) Pode ainda ser o primeiro de um conjunto de ataques, que, a depender de quais sejam, poderá também reabrir a disputa.
5) O que apareceu hoje é forte o suficiente para exigir uma resposta. Agnelo precisa, sim, responder.

E, pra você, o que falta dizer?

Não tenho elo com esses duelos!

1) Veja x Caros Amigos.
2) Época x Carta Capital.
3) Globo x SBT e Record.
4) Diogo Mainardi x Paulo Henrique Amorim.
5) Miriam Leitão x Luís Nassif
6) Merval Pereira x Emir Sader.
7) Arnaldo Jabor x Chico Buarque.
8) Paulo Preto x Erenice Guerra.
9) Roberto Jefferson x Zé Dirceu.
10) Serra x Dilma.

Na campanha, sobra escriba, falta intelectual.
Sobra manipulação, falta jornalismo.
Sobra claque, falta reflexão.

Nulo neles.

E, pra você, o que falta dizer?

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Mea Culpa

Pessoas, quero me desculpar com vocês, leitores do Falta Dizer. A reportagem do Jornal Nacional, desde 21 de outubro, me pareceu bem convincente no sentido de mostrar que houve outro objeto arremessado sobre a cabeça do Serra, que não a bolinha de papel.
O Serra estava ficando com a imagem de um superpicareta, porque parecia que tinha armado um teatrinho sem-vergonha com a tal bolinha. O outro objeto não parece particularmente pesado e danoso, mas Serra pode, sim, ter sido sincero em sua reação à pancada.
Sei que no PT há muito fundamentalismo e que esse fundamentalismo às vezes degenera em formas mais agressivas de intolerância.
Mas é preciso destacar que:
a) a violência política não é monopólio do PT;
b) o episódio do Rio de Janeiro foi condenável, mas não deve se prestar a uma superexploração política, tampouco servir como combustível para uma escalada da violência na campanha eleitoral.
Por isso, mantenho meu alerta e apelo: muita calma nesta hora!
Mais uma vez, peço desculpas a todos os leitores do Falta Dizer, bem como aos tucanos pelo julgamento impreciso.

Muita calma nessa hora!!!

Um espectro ronda nossa democracia: o espectro de uma bolinha de papel!
Por causa do arremesso de uma bolinha de papel, que os tucanos tentaram vender como grave agressão contra Serra, o clima da campanha esquentou perigosamente.
Depois disso, inventaram de jogar uma bexiga com água na Dilma.
Isso pode acabar muito mal.
É hora de baixar o facho, de serenar os ânimos.
Esta campanha, como todas as outras, já teve os seus fatos violentos.
Mas foram conflitos isolados.
Não vamos deixar o caldo entornar.
Serra e Dilma devem usar os próximos programas para pedir calma aos seus apoiadores.
E você, o que acha que falta dizer sobre eleição e Maracujina?

Pequeno glossário de grosserias eleitorais

1) Campanha: época em que o pensamento apanha.
2) Candidato: pessoa desprovida de candura.
3) Eleitor: às vezes, eleitolo.
4) PSDB: Partido Sem Discurso e Base.
5) PT: Partido Trator.
6) Urna eleitoral: às vezes urna funerária do futuro.
7) Programa eleitoral: o mesmo que falta de programa (no sentido de quem assiste, falta do que fazer; no sentido de quem apresenta, falta de projeto).
8) Agressão: aquilo que fazem contra seu candidato.
9) Denúncia: aquilo que você faz contra o outro candidato.
10) Vítima: sempre o seu candidato.
11) Agressor: sempre o outro candidato.
12) Verdade: sempre o que o seu candidato diz.
13) Mentira: sempre o que o outro candidato diz.
14) Segundo turno: às vezes, momento soturno.
15) Voto: às vezes, vuoto*.
16) Resultado destas eleições presidenciais, se Dilma ganhar: seis.
17) Resultado destas eleições presidenciais, se Serra ganhar: meia dúzia.


*Vuoto: vazio, em italiano.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Boys don't cry (1)

No início da década de 1980, Gabeira publicou seu segundo livro, O crepúsculo do macho.
Não me lembro de quase nada do livro, mas o título me parece atualíssimo.
O macho é o homem pré-século XIX, pré-revolução industrial, pré-fusão da ciência com a tecnologia.
O pós-isso tudo ensejou outra masculinidade: viril, sim, mas também intelectualizada, técnica, politizada, polida, delicada.
Porque o macho não dá conta dos novos aparatos e relações.
A vida mudou, mas não avisaram milhões e milhões de machos brasileiros, sobretudo os mais pobres, enredados num mau primitivismo de álcool, acidentes de trânsito, sexo inseguro, trabalho braçal, procriação irresponsável, bala e faca.
O macho já foi o herói da sociedade.
Mulheres, crianças e velhos se beneficiaram de suas performances calcadas na honra e na força bruta.
Esse tempo, porém, passou.
Pode até ser bem-vinda alguma macheza, desde que não exercida muito ao pé da letra.
Afora algumas mulheres muito primitivas, ninguém mais admira o velho machão.
Quem perde com esse anacronismo?
Quem está por perto dos defasados machões, lógico. Eles são perigosos.
Isso todo mundo percebe.
Mas o que quase ninguém percebe é que esses homens à moda antiquíssima estão precisando de ajuda.
Ou seja, eles não são somente vilões, são também vítimas da velha cultura machista.
Essa velha cultura os transforma em verdadeiros obsoletos sociais, e eles, somente com suas próprias forças, não são capazes de se libertar dela.
Não vi nesta campanha eleitoral ninguém, rigorosamente ninguém, falar sobre esse segmento social, que necessita desesperadamente de ajuda social e estatal.
Eles fazem parte do que Álvaro de Campos chamou de "fauna maravilhosa do fundo do mar da vida", para quem nenhuma política foi feita.
E você, o que acha que falta dizer sobre esse gênero de problema?

Boas-Vindas

Boníssimas vindas para ZP e Alex Nazaré!!!

Imensa alegria de tê-los aqui!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A barbárie, figura da civilização

A civilização avança, graças à barbárie.
A barbárie é fronteira e combustível da civilização.
Como fronteira, a barbárie indica à civilização o quanto há para avançar.
Dito de outro modo, a civilização avança à custa do que ainda há de barbárie para superar.
Como combustível, é a descomunal e errática barbárie que provê a energia indispensável às grandes obras da civilização.
Dito de outro modo, os grandes civilizadores são bárbaros remediados.
No contexto da eleição atual, o caluniador tucano é uma reminiscência bárbara.
Mas é também um fator civilizador.
Graças a sua fúria bárbara, os petistas se reenergizam para a realização de sua grande obra civilizadora: a eleição de Dilma, que uma vez concluída deixará mais exangue e exígua a barbárie tucana.
No contexto da eleição atual, também o caluniador petista é uma reminiscência bárbara.
E tudo que se diz sobre a luta dos civilizados petistas contra os bárbaros tucanos se aplica inversamente à luta dos civilizados tucanos contra os bárbaros petistas.
O que me remete a Thomas Mann: somos todos criaturas precárias e sofredoras, mas não nos reconhecemos uns aos outros.
E você, o que acha que falta dizer sobre a bárbara civilização?

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Viva a concorrência!

Já disse aqui: é uma bobagem não votar em Dilma com base na convicção de que ela vai convencer o Congresso a legalizar o aborto.
Dilma não tem poder para isso; e se tivesse não quereria ou não daria prioridade para isso.
Muita gente denunciou isso como uma entrada indevida da religião no âmbito da política.
Ocorre, porém, que há um outro motivo, menos nobre, para muitas pessoas quererem manter a religião longe das eleições: a repulsa à concorrência.
Explico.
Desde que não há mais o sagrado originário, aquele, por exemplo, do fervor e do delírio extremos do canibalismo tupinambá, as culturas desenvolveram formas atenuadas do sagrado, que eu chamo de sagrado vicário.
Uma dessas formas é a religião.
Na religião, não ocorre o sacrifício (que, literalmente, significa fazimento do sagrado) com a mesma intensidade encontrada no sagrado originário.
Na religião, portanto, o sacrifício é de médio ou baixo perfil, um sacrifício mitigado.
A marca do sagrado é a autodoação, a autoentrega; no sagrado vicário, ocorre também a autodoação, embora atenuada.
Na autodoação, o juízo ou não conta ou conta pouco.
Assim, no sagrado vicário da religião cristã, por exemplo, as pessoas se doam a Cristo, que, por sua vez, se doa às pessoas, porque creem que é isso que devem fazer, não pelo fato de seu sóbrio juízo lhes indicar esse caminho, mas sim pelo fato de crerem intensamente que tem que ser assim.
Mas o sagrado vicário não ocorre apenas na religião; ocorre no esporte, no sexo, no trabalho, na política.
Na política, você pode se entregar a uma ideologia, como o neoliberalismo.
Na política, você pode também se entregar a uma pessoa, como no lulismo.
Quando o cristianismo invade o âmbito da política, com sua veemente condenação do aborto, muitas pessoas reagem porque sentem a presença concorrente de outro sagrado vicário.
É como se disessem: cristianismo aqui, não! Já temos o neoliberalismo!
Ou: Cristo aqui, não! Já temos Lula.
Como cada sagrado vicário possui os seus próprios dogmas (o cristianismo possui os seus; o neoliberalismo e o lulismo também), os representantes de cada um dos outros sagrados vicários lutam para que seus sistemas dogmáticos não percam espaço.
Bem entendido, é como se o cristianismo fosse um partido político e é como se o neoliberalismo e o lulismo fossem religiões.
A turma da política grita: opa!, sai fora, religião, cada qual no seu cada qual.
Só que eles se esquecem de uma coisinha: são todos da mesma turma, a turma do sagrado vicário e do dogmatismo. Cada um a sua maneira, mas com muita coisa em comum.

Fala mansa

Quando você olha para um líder, um verdadeiro líder, você se desconcerta pelo fato de ele ou ela estar vendo algo. Um líder é alguém que tem uma visão e se guia por ela.
O desconcerto advém da assimetria de ele ou ela estar vendo o que você não vê.
A assimetria, e consequentemente o desconcerto, obviamente se desfará se você conseguir ver também.
Então, para desfazer a assimetria e o desconcerto, você talvez se disponha a ouvi-lo.
Imantado por uma visão, o líder imanta você.
Mas experimente dar uma olhada para o Serra; o que você vê?
Creio que não um líder, imantado por uma visão, mas possivelmente um homem envolvidíssimo com mil tarefas.
Você pode acreditar que Serra trabalha e que trabalha bem, e talvez por isso você vote nele.
Mas dificilmente você votará em Serra por vê-lo como um líder.
Olhe agora para Dilma; o que você vê?
Creio que não uma líder, imantada por uma visão, mas possivelmente uma mulher competente que trabalhou para um governo competente, e talvez por isso vote nela.
Como eu acredito que este seria um momento para votar numa visão, num projeto abrangente, numa utopia bem-articulada, viva, e acredito, por isso, que este seria um momento para votar num verdadeiro líder, decido não votar em nenhum dos dois.
Então...
Nulo neles.
E você, o que acha que falta dizer sobre ver e votar ou votar para ver?

domingo, 17 de outubro de 2010

A cidade e a máscara

Platão tinha esse apelido porque era um omoplatão: cara forte de ombros largos.
Sua filosofia, conforme exposta em A República, concedia privilégio político aos mais fortes, contanto que fossem os mais inteligentes.
Os mais fortes e mais inteligentes eram os nascidos mais fortes e inteligentes.
Assim, a liderança política era exercida segundo o critério aristocrático da eugenia.
Visto sob a luz de uma moderna concepção republicana, isso era sem dúvida detestável.
Mas a política segundo Platão tinha uma ênfase admirável: a busca do melhor para a cidade e os cidadãos.
O nome Machiavel é quase o adjetivo maquiável.
Sua filosofia, conforme exposta em O Príncipe, concedia privilégio político aos mais argutos na busca por conquistar, manter e transferir o poder político.
Era na prática que se deveriam revelar os mais argutos.
Assim, pelo menos no modo como seria interpretada posteriormente, a liderança política seria exercida segundo o critério democrático do mérito concretamente aferido.
Visto sob a luz de uma moderna concepção democrática, isso é sem dúvida admirável.
Mas a política segundo Machiavel tinha uma ênfase detestável: a supervalorização da busca individual pelo poder, em detrimento da busca pelo melhor para a cidade.
O político platônico se apresenta como o melhor e se expressa francamente, sob a luz, que é dádiva do Sol.
O político maquiavélico se apresenta como candidato a melhor e se expressa dissimuladamente, sob uma máscara mutante, que é sua obra-prima.
Na vida moderna, a busca pelo melhor para a cidade deve se harmonizar com o direito de cada cidadão competir por um lugar ao sol na política.
Essa harmonia é o mais desejável numa política moderna e democrática dos tempos atuais.
E você, o que acha que falta dizer sobre a cidade e a máscara?

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O lado interno da política externa

1) Na política externa, o Brasil de FHC não tinha personalidade; o de Lula não tem caráter.

2) Celso Lafer tirou os sapatos; Amorim, a própria máscara.

3) Lafer, descalço, perdeu a pose, a classe; Amorim é dose, só vê luta de classes.

4) Lafer tinha mania de pedir bênção; Amorim, de chamar atenção.

5) Lafer era irritantemente prudente; Amorim mostrou os dentes.

8 + 8 ou 8 contra 8?

Lula tem mais sensibilidade social que FHC.
FHC não teria turbinado tanto as transferências de renda.
Também não teria aumentado tanto o salário-mínimo.
Tampouco teria expandido tanto o crédito.
Mas há duas coisinhas que quase ninguém fala:
1) o bolsa-família antes era visto como um programa tipo neoliberal, portanto mais ao gosto de presidentes tipo FHC, que, não fosse o contexto externo ruim que pegou, talvez tivesse caprichado mais na transferência de renda;
2) Lula turbinou o bolsa-família a partir de 2005, em plena crise do mensalão, quando ele precisava desesperadamente recuperar a popularidade, que estava no fundo do poço.
Isso me leva a  repetir:
Lula tem mais sensibilidade social que FHC.
E também a completar:
Mas nem tanto assim.
E você, o que acha que falta dizer sobre a habilidade de transparecer sensibilidade?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O país que quer virar suco

Depois que o Brasil ganhou a Copa de 1970, instalou-se a polêmica em torno de duas posições:

1) o mérito foi todo de Saldanha, que havia montado a base do time;
2) o mérito foi principalmente de Zagallo, que acomodou no time titular Pelé, Tostão e Rivelino.

Enquanto grassava a discórdia, a seleção se esquecia do mais importante: a preparação para a Copa de 1974.

A realidade plausível caiu sobre as nossas cabeças sob a forma do vertiginoso carrossel holandês.

Perdemos a Copa de 1974, porque nos perdemos num debate mesquinho e narcisista sobre a quem deveríamos dar o crédito da vitória de 1970.

Hoje, Serra e Dilma estão perdidos num debate sobre quem é o verdadeiro herói do Brasil que começou bem o século XXI: FHC ou Lula?

É claro que a única resposta razoável é: cada um deu sua contribuição.

E é claro que a única atitude razoável é nos voltarmos para o futuro e nos prepararmos para os desafios que vêm por aí (que, aliás, já estão aí).

Serra e Dilma fazem uma campanha de quem ainda não teve tempo para pensar no futuro.

Então...

Nulo neles!

E você, o que acha que falta dizer sobre futebol e eleição?

É de ladinho que eu me acho?

Muita gente que é Serra ou Dilma nessa eleição diz que não vota nulo porque em política é preciso "ter lado".
Mas dá uma olhada em quem está do lado de Dilma.
E também em que está do lado de Serra.
Não sou contra alianças, mas gosto que fiquem claros os termos em que elas são seladas.
A aliança de Dilma com todos esses que estão do lado dela é para ir para que lado mesmo?
E para que lado Serra vai, se ganhar?
Acho que Dilma e Serra deixaram essa questãozinha de lado.
Do meu lado, só posso dizer:
Nulo neles!!!
E você, o que acha que falta dizer sobre as eleições ao lado?

Being Lula?

Dilma quer ser Lula.
Serra também.
Dilma ainda é mais Lula do que Serra o é.
Mas a lulização de Serra andou crescendo.
Além do mais, Serra consegue ser também o anti-Lula, o que é impossível para Dilma.
Tudo bem que o espaço eleitoral de um anti-Lula é relativamente pequeno, mas pode decidir a eleição.
O desafio de Serra é ser uma combinação eficiente de Lula e anti-Lula.
As pesquisas indicam que ele tem chance de conseguir isso.
E você, o que acha que falta dizer sobre ser e não ser Lula?

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Being Dona Weslian

Vocês se lembram daquele filme chamado Eu quero ser John Malkovich (Being John Malkovich)?
Vocês se lembram que, em um certo momento, todos os personagens têm a cara do Malkovich?
Vocês se lembram que a sensação do protagonista é a de estar vivendo um horrendo pesadelo?
Agora, imaginem que vocês ligam a TV e os dois candidatos à Presidência têm a mesma cara, e que essa cara não é a do Malkovich e sim a da Dona Weslian.
E que os dois candidatos têm o mesmo despreparo e incapacidade de se expressar da Dona Weslian.
Isso certamente seria um pesadelo ainda pior.
Mas pior do que isso é saber que ele teria um quê de verdade.
E vocês, o que acham que falta dizer sobre pesadelo e eleição?

Surfe é o que eu sei

O Brasil não é uma ditadura do petróleo. Mas é uma democracia das commodities.
Isso quer dizer que, quando nossas commodities estão bombando, nossa economia tende a bombar.
Mesmo sem cuidarmos adequadamente da educação, da saúde, da segurança, da infraestrutura, do transporte, da moradia qualidade da gestão pública etc.
Ou seja, tudo o que garante aumento da produtividade do trabalho e da competitividade de nossos produtos e serviços.
Estamos surfando numa enorme onda das commodities, o que é uma grande oportunidade.
A julgar pela baixa qualidade programática dessa campanha, vamos ter que esperar o presidente eleito em 2014, para ver se aproveitamos essa oportunidade histórica.
E você, o que acha que falta dizer sobre surfe e eleição?

Perguntar defende

Vou fazer algumas perguntinhas, como forma de defender uma agenda que Dilma e Serra ignoram.

1) Como promover a qualidade da educação e da formação do brasileiro, no curto, médio e longo prazo?
2) Como transformar o SUS num autêntico e resolutivo sistema de saúde, em vez de um punhado de unidades de saúde precárias e mal-articuladas?
3) Como fazer o Brasil acertar o passo com o desenvolvimento sustentável?
4) Como criar um vigoroso sistema de inovação e fortalecer, entre nós, a economia do conhecimento?
5) Como combinar prevenção e repressão no combate à violência?

E você, o que acha que falta dizer e perguntar sobre a agenda eleitoral do país?

Direito de resposta

COMUNICADO DOS POVOS DE LÍNGUA PORTUGUESA

Repudiamos as tentativas dos senhores Falta Dizer e Manoel Rodrigues de tentar nos impingir produtos eleitorais obsoletos.


Loucos slogans

1) É muito chique: Serra pra presidente!
De Moçambique.

2) Essa aí cola: Dilma presidente!
De Angola.

3) Nada mau: Serra presidente!
Da Guiné-Bissau.

4) Mulher boa da peste: Dilma presidente!
Do Timor Leste.

5) Seu voto você não perde: Serra Presidente!
De Cabo Verde.

6) Acabaram seus temores: Dilma presidente!
Dos Açores.

7) Genial! Dilma e Serra pra governar...
Portugal.

Atrás do atraso

Por trás de toda campanha atrasada. tem muita gente atrasada.
A campanha da Dilma é muito atrasada.
A do Serra também.
Por trás das campanhas atrasadas de cada um, tem muita gente atrasada.
Como essa gente foi parar lá?
A Dilma correu atrás, ora.
O Serra também.
E você, o que acha que falta dizer sobre atraso e eleição?

Não fui eu que disse (1)

Pessoas, segue coluna do Fernando Rodrigues, na Folha de São Paulo de hoje

FERNANDO RODRIGUES
Nhonhô e sinhá

BRASÍLIA - A regressão do debate eleitoral não ocorre só por causa do fundamentalismo religioso adotado "con gusto" pelos dois concorrentes ao Palácio do Planalto. Há também nas propagandas uma forte conotação assistencialista.
O candidato nhonhô José Serra (PSDB) promete salário mínimo de R$ 600 e um 13º aos beneficiários do Bolsa Família. A sinhá Dilma Rousseff (PT) fala em distribuição de remédios e luz de graça para pobres. Não há um trecho das propagandas eleitorais sugerindo como os brasileiros, eles próprios, têm também de participar do processo de desenvolvimento do país.
É como se só o Estado com suas tetas enormes estivesse obrigado a ser o provedor de tudo. Esse discurso glorifica e incentiva o eleitor pidão, um "não cidadão", alguém que olha o governo e só vê uma entidade abstrata, cujo dinheiro surge por geração espontânea.
Dilma e Serra falam sobre valores e desenvolvimento. Mas nenhum menciona o quanto cada eleitor terá de trabalhar para tornar realidade o Brasil mostrado no horário político pelas lentes digitais com "efeito de cinema".
É uma atitude cômoda. Dilma e Serra manipulam as crenças e a fé da massa maior de eleitores. Gente a favor de manter como crime a prática do aborto. Não fosse por Marina Silva, paradoxalmente a mais conservadora, nenhum tema relacionado ao século 21 teria aparecido na campanha.
Depois de 25 anos de democracia, faltou coragem aos candidatos a presidente com chance de vencer. Evitam tratar os eleitores como adultos. Seria ingenuidade esperar de Dilma ou de Serra uma frase igual à pronunciada por John Kennedy em 1961, ao tomar posse -"não pergunte o que o seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo seu país".
O Brasil está a léguas desse estágio de maturidade. PT e PSDB, nesta campanha, fazem o possível para manter tudo como está.

fernando.rodrigues@grupofolha.com.br

terça-feira, 12 de outubro de 2010

The 70's

A eleição tá tão sem conteúdo, tão guerrinha de torcida, tão cara de coisa velha, que disse a um amigo que tava achando a disputa meio anos 80.
Errei: é anos 70 mesmo.
Tá assim:

1) É Zico ou Rivelino?
2) Ronnie Von ou Antônio Marcos?
3) Wanderléa ou Rosemary?
4) Silvio Santos ou Flavio Cavalcanti?
5) Globo ou Tupi?
6) Coca ou Pepsi?
7) TL ou Variant?
8) Kichute ou Conga?
9) Arena ou MDB?
10) Dilma ou Serra?

E você, o que acha que falta dizer sobre revival e eleição?

Quem odeia as ideias?

No Brasil, não há partidos, há apenas comitês eleitorais.
Também não há militantes, mas tão-somente cabos eleitorais.
Se não há partidos, não há vida partidária.
Se não há vida partidária, não há debate.
Se não há debate, não há formulação programática.
Se não há formulação programática, os candidatos não têm muito o que apresentar, durante as eleições.
As universidades poderiam suprir essa lacuna programática, mas:
1) nossas universidades não têm revelado suficiente capacidade e independência para preencher essa lacuna;
2) poucos são os políticos que se interessam pelo pouco que se produz em nossas universidades.
É por isso que os programas eleitorais de Dilma e Serra são tão pobres.
E você, o que acha que falta dizer sobre papo furado e eleição?

Ele voltou!

Parabéns à turma do programa de TV do Agnelo dispensou o robô, trouxe de volta o homem.
Aquele sorriso forçado e a voz de estagiário de pastor estavam acabando com os meus nervos.
Aquilo não é Agnelo.
No último programa, Agnelo entrou em cena com seu ponto forte: o contato pessoal.
Quem conversa com Agnelo tem normalmente uma forte sensação: taí um cara do bem, amigo, trabalhador.
E esse elemento estava fora dos programas.
Como inseri-lo?
O pessoal colocou áudio na hora do aperto de mão, do abraço, da conversa com as pessoas na rua.
Ficou muito bom.
Sobretudo porque aquilo de fato acontece.
Teve uma mulher que, abraçada a ele, disse: - Agnelo, eu amo você, e soou verdadeiro, porque era mesmo de verdade.
Agnelo pode não ser um grande formulador; também não é um grande orador.
Mas tem história e personalidade e, montado nelas, tem mais chance de ganhar.
Se eu tô com Agnelo?
Desde o primeiro turno: Roriz nunca mais!
E você, o que acha que falta dizer sobre TV, verdade e eleição?

Faltou dizer obrigado

Superobrigado e grande abraço aos seguidores de Falta Dizer, que graças a Deus seguem apenas a própria consciência: Musashi, Joaquim, Wellington, Eliane, André Gianecchini, Sam the Swan, The Apple Omena, Gui e Ligia (Vestida pra Filosofar).

Mega-abraços também aos comentaristas Excelso Celso e Marcolino.

Valeu!

Seis por meia dúzia

Uma amiga me lembrou que, no ano passado, eu me posicionei contra a possibilidade de mais um governo petista.
Minha posição, de fato, mudou e agora tô naquela de nulo neles.
Por quê?
Porque não creio mais no poder de fogo antirrepublicano do stalino-petismo.
Os stalino-petistas, se pudessem, cubanizariam a economia e a política do país, destruiriam nossa república e nossa democracia.
Mas não podem.
Se vencerem, causarão, sim, novos estragos à gestão pública e à política externa brasileira.
Envenenarão um pouco mais nossa atmosfera política.
Mas não farão muito mais que isso.
Do outro lado, está um PSDB desfigurado de sua mensagem original social-democrata e enrodilhado com a direita.
Não fosse isso, votaria, sim, em Serra que, por suas convicções, é um social-democrata e não o neoliberal que pintam.
Somadas as fichas, o mal do stalino-petismo está em igualdade de forças com o mal do mídio-cinismo, capitaneado pela Veja, assim como o mal do PMDB está mais ou menos equilibrado com o mal do DEM.
O mal de um lado neutralizado com o mal do outro.
E esse equilíbrio, na falta de coisa melhor, já é algum bem.
Então: nulo neles!
E você, o que acha que falta dizer sobre a luta do bem contra o mal e a eleição presidencial?

Biotônico para a biônica!

Dilma é um poste, já se disse.
Mas esqueceram de acrescentar: Dilma é um poste sem luz.
Acharam que lhe bastaria ser um poste com Lula.
Agora, porém, seu favoritismo está seriamente abalado, por falta de luz e vida própria.
Comparado com ela, o absolutamente sem graça Alckmin, de 2006, está parecendo um holofote.
É certo que o bombardeio da Veja e cia. contou.
Contou também a história do aborto.
Contou ainda a melhora indiscutível do desempenho pessoal de Serra.
Mas o principal fator de defecção eleitoral de Dilma se chama Dilma.
Nos próximos dias, Dilma terá que aparecer com mais graça, mais desenvoltura, mais personalidade, terá que apresentar  uma razãozinha, um atributozinho pessoal qualquer para que o eleitor vote nela.
Do contrário, Serra nem precisará da forcinha de um novo escândalo para disputar a eleição em igualdade de condições.
E você, o que acha que falta dizer sobre eleição e iluminação pública?

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A quem é dado ficar aquém?

O controle da inflação e a responsabilidade fiscal já foram do PSDB; hoje são do Brasil.
O Bolsa-Família e a expansão do crédito já foram do PT; hoje são do Brasil.
Nem sempre o PT trata o controle da inflação e a responsabilidade fiscal tão bem quanto o PSDB o faria.
Já o PSDB, numa eventual volta ao governo, talvez não cuide tão bem do Bolsa-Família e da expansão do crédito quanto o PT o faria.
Mas, pelo menos no transcurso do próximo governo, não está ao alcance do PT restaurar a inflação e minar a responsabilidade fiscal; também não está ao alcance do PSDB esvaziar o Bolsa-Família e minguar o crédito.
Em suma, nem que queiram, PT ou PSDB poderão retroceder seriamente.
Insisto: o problema de um e outro é a incapacidade de ir além.
E você, o que acha que falta dizer sobre marcha a ré e quinta marcha?

Bobeira abissal

Alguém pode não querer votar no Serra porque supõe que ele queira privatizar o Banco do Brasil.
Isso é uma coisa. Num caso como esse, a pessoa estaria disposta a votar apenas num candidato que tenha os mesmos valores e desejos fundamentais que ela.
Mas nem o Serra nem ninguém será capaz de privatizar o Banco do Brasil somente pelo  fato de ser presidente.
Simplesmente porque não há clima nem na sociedade nem no Congresso Nacional para privatizar o Banco do Brasil.
Assim, se alguém está decidido a não votar no Serra porque acredita que ele vai mesmo privatizar o Banco do Brasil, sinto muito, mas essa pessoa está fazendo papel de boba.
E você, o que acha que falta dizer sobre eleição e bobeira?

Atolado na tolice

Catolicismo é uma religião, tão boa ou ruim quanto a maioria das outras.
O mesmo se pode dizer de qualquer vertente do protestantismo.
Uma pessoa, seja católica, protestante, fiel a outra religião ou ateia, tem o direito de votar em alguém pelo  fato de compartilhar com o candidato os mesmo valores fundamentais.
Posso votar em alguém por ser favorável ou contrário ao aborto, por exemplo.
Mas não faz sentido crer que uma pessoa, pelo simples fato de ser presidente, vai liberar ou impedir a liberação do aborto.
Ninguém vai descriminalizar o aborto no Brasil, pelo simples fato de que não há o menor clima para isso, nem na sociedade nem no Congresso.
Assim, se alguém está decidindo não votar na Dilma porque acha que ela é a favor do aborto e essa suposta posição da candidata não combina com os seus valores, isso é uma coisa.
Porém, se alguém está decidindo não votar na Dilma porque acha que ela vai liberar o aborto no Brasil, me desculpe, mas está simplesmente fazendo papel de tolo.
E você, o que acha que falta dizer sobre eleições e tolice?

Curta as curtas

1) O ditador ama tanto a liberdade que a quer inteirinha para ele.

2) Nem petista nem tucano conversam contigo: o petista te doutrina; o tucano te ignora.

3) A democracia é mesmo uma coisa abominável; pior do que ela só mesmo os outros regimes.

4) Sumo paradoxo: a Veja é cega (de ódio).

Naquela de nulo neles

Eu poderia dizer que não voto em Dilma ou Serra, porque eles representam o pior do pior.
Mas não é essa minha posição.
Um ou outro fará um governo entre medíocre e mediano.
Pelo menos é o que suas coalizões e fragilidade programática prometem.
Poderá ser até um governo bonzinho.
Minha bronca é que o Brasil pode, de fato, mais e melhor; e merece seguir mudando, agora de modo mais qualificado.
Meu voto nulo para presidente se deve, portanto, a minha convicção de que uma e outra candidatura estão muito aquém da capacidade de nos levar além.
E você, o que acha que falta dizer sobre coisas de aquém e além?

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Futuro obscuro

O nome verdadeiro da coligação da Dilma é "Para o Brasil seguir mudando do mesmo jeito".
O nome verdadeiro da coligação do Serra é "O Brasil pode mais do mesmo".
Isso quer dizer: esta eleição é a disputa de uma mesmice contra a outra.
Isso quer dizer: o próximo governo será sem sustos e sem saltos.
Isso quer dizer: modorra, medianidade, rotina, acomodação com o atraso.
E você, o que acha que falta dizer sobre política sem futuro?

O peso da peçonha

O jingle do Serra diz que, se Dilma ganhar, vem junto com ela uma turminha da pesada.
Esqueceu de acrescentar: – Junto com Serra vem também uma megagalera do mal.
Dispostas as turmas em cada prato, ou dá empate ou adeus balança.
E você, o que acha que falta dizer sobre sumô e eleição?

Na lama, sem Obama

Dilma Rousseff é Hillary Clinton.
José Serra é John McCain.
Imagine o que teria sido a última eleição presidencial dos EUA sem Obama.
Assim é o nosso segundo turno.
Com uma diferença para pior: o baixo nível da nossa disputa, sobretudo na internet.
E você, o que acha que falta dizer sobre pocilga e eleição?

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Marcapasso

Se vencer, Dilma não será a presidente-monstro que pintam.
Serra também não.
Qualquer um dos dois será, possivelmente, apenas mais um chefinho da nação, aquém do melhor de FHC e Lula.
Ou seja, não inovarão, não impulsionarão o Brasil para a frente; apenas marcarão passo.
Haaaaaaaaaaaaaja coração...
E você, o que acha que falta dizer sobre infarto e eleição?

Jekill and Hyde

Há a campanha da TV.
Há a campanha da internet.
A campanha da TV é respeitável, como o médico da preciosa historinha de Stevenson.
A campanha da internet é abjeta, como o monstro da mesma historinha.
Na campanha de Serra na TV, há ataques a Dilma, mas prevalece a tentativa de vender o Serra como nosso amigão.
Na campanha de Dilma na TV, há ataques a Serra, mas prevalece a tentativa de vender a Dilma como nossa mãezinha.
Já no lixão da internet, tucanos e petistas mostram sua pobreza moral e intelectual em cada tentativa de que lançam mão para desmoralizar o adversário.
E você, o que acha que falta dizer sobre o médico, o monstro e as eleições?

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Encontro de Serra e Mar?

Não sei se é certo, mas dizem que o fenômeno Marina é formado das seguintes metades: o voto antiaborto e o voto pró-meio ambiente.
Se for assim, Serra está em vantagem.
É mais fácil para ele herdar o voto antiaborto.
Pode ser mais fácil para ele também herdar o voto pró-meio ambiente.
Primeiro: foi Dilma quem acuou a ministra Marina.
Segundo: o PV vai fechar com Serra.
Terceiro: Serra poderá, se for inteligente, esverdear seu programa; se esverdear bem, poderá balançar o coração de Marina.
E você, o que acha que falta dizer sobre o encontro da Serra com o mar?

Alguém chamado Dilma

E agora o comando de campanha de Dilma quebra a cabeça: como garantir a vitória?
Há a agenda do conteúdo.
Há a agenda do estilo.
Na agenda do conteúdo, voltar à defesa da era Lula, explicitando o que o Serra (supostamente) não faria: carregar a mão no social e na participação do Estado no planejamento e na indução do desenvolvimento.
Na agenda do estilo, Dilma apresentar-se como alguém.
A agenda do conteúdo, é óbvio, é bem mais fácil de satisfazer que a agenda do estilo.
Porque não será fácil achar a medida certa da espontaneidade de Dilma.
Até aqui, ela se apresentou tolhida pela rédea curta do marketing.
Daqui em diante, será necessário afrouxar a rédea, mas na medida certa, para não gerar rejeição.
Ela e os marqueteiros saberão achar essa medida?
E você, o que acha que falta dizer sobre candidatura e personalidade própria?

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O peso da pessoa

Há vários meses um amigo disse não crer na vitória de Dilma.
Seu argumento: o brasileiro estabelece uma relação pessoal com o presidente, e Dilma teria que se apresentar com personalidade própria, o que lhe parecia pouco provável.
É curioso que, durante meses, os analistas tenham, de uma forma ou de outra, sublinhado esse aspecto e, agora, que Dilma não conseguiu liquidar a fatura no primeiro turno, ninguém fale mais nisso.
Pois eu reitero: Dilma perdeu pelo fator Marina, é certo; perdeu pelo bombardeio da mídia, é certo; perdeu devido a uma certa recuperação do Serra, é certo; mas perdeu também porque, como pessoa, não agregou nada de positivo a sua campanha.
Até hoje, passados muitos e muitos meses de campanha, Dilma não estabeleceu nenhuma relação pessoal com os eleitores.
E você, o que acha que falta dizer sobre pessoas e candidatos?

O que falta dizer, Dilma?

Lula e Dilma bateram em duas teclas:

a) na sua era, o Brasil retomou o crescimento;
b) também na sua era, o Brasil diminuiu a desigualdade.

Mas a oposição, faz um tempinho, está respondendo:

a) foi o Real que preparou o atual crescimento;
b) na era Lula, a situação da economia mundial foi extremamente favorável ao Brasil.

Essa resposta colou para muita gente, e até agora o PT não soube refutá-la.

Se não refutá-la, o discurso de Dilma pode perder muita força.

Lula e Dilma podem dizer que tudo o que o Brasil tem hoje de mais relevante para o seu desenvolvimento surgiu a partir da ação do Estado (etanol, Embrapa, Embraer, Petrobras, Vale) e que o PSDB quer um Estado omisso e irresponsável.

E você, o que acha que falta Dilma dizer?

Veja bem

A eleição presidencial no primeiro turno foi:
a) uma vitória da direita udenista, Veja à frente, contra o trabalhismo e populismo lulista;
b) uma vitória de Marina e de quem luta contra o duopólio PT + PSBD;
c) uma pequena vitória de Serra, que recuperou parte do seu eleitorado;
d) uma derrota da presunção lulo-petista.
Vocês se lembram do que aconteceu no Chile?
A direita ganhou, não foi?
O que isso quer dizer?
Em sociedades complexas como a chilena, a argentina e a brasileira, é muito difícil uma força política monopolizar a preferência do eleitorado.
Pode dar Dilma, depois do susto, depois de o eleitorado reduzi-la ao seu verdadeiro tamanho.
Ou...
Preparem-se, a direita udenista vem aí, com tudo.
E você, o que acha que falta dizer sobre neoudenistas e neotrabalhistas?

Socorro, mãe!

Na dúvida, uma amiga ligou para a mãe: - Em quem eu voto para presidente?
A mãe: - Em qual dos candidatos você confiaria seus filhos?
Ah!..., pensou minha amiga e votou em Marina.
E eu completo:
a) Serra se trancaria no escritório e deixaria as crianças ao deus-dará;
b) Dilma distribuiria broncas e beliscões;
c) Plínio brincaria com as crianças o dia inteiro, mas se esqueceria de que é o adulto da turma e não providenciaria nem o banho nem a comida.
d) Ivan Pinheiro, como bom comunista, comeria as criancinhas;
e) Rui Costa Pimenta, do PCO, e José Maria, do PSTU, como bons trotskistas, transformariam as crianças em operários de alguma fábrica do ABC;
f) Marina, bem, acho sim que esssa tem cara e jeito de mãe.
E você, o que acha que falta dizer sobre mães e eleições?

Banana para o plebiscito

O Brasil não é uma democracia madura.
Mas também não é uma república de bananas.
República de bananas é uma expressão ambígua, que quer dizer:
a) país que vive somente da exportação de produtos primários, não tem mão de obra qualificada e não possui instituições estáveis;
b) país cujos habitantes são uns bananas, que se deixam docilmente manipular.
O eleitorado brasileiro é complexo. Aqui tem muita gente escolarizada, que não aceita voto de cabresto e repudia a corrupção. Aqui tem muita gente que acabou de chegar na classe C e, mal melhorou de vida, já se torna mais exigente e criteriosa.
Dilma e Lula esperavam uma gratidão automática, servil, do eleitorado; mas receberam uma manifestação muito além dessa expectativa simplista.
E você, o que acha que falta dizer sobre repúblicas e bananas?

sábado, 2 de outubro de 2010

Plebeus livres do plebiscito

Marina disse: - Quebramos a lógica do plebiscito.
Ela tem razão.
Lembram de 2006?
O discurso do PT era: - Não há alternativa!
Nada, nada, agora os eleitores têm para onde correr.
E você, o que acha que falta dizer sobre estas eleições?

Quem controla quem

Por meio do marketing político, os políticos manipulam os eleitores, certo?
Mas o marketing político é feito com base em pesquisas sobre as preferências dos eleitores.
Uma vez constatadas essas preferências, os candidatos procuram se adaptar a elas.
Esse processo de adaptação é facilitado, hoje em dia, já que são raros os candidatos com persnonalidade e propostas próprias.
Assim, fica fácil inscrever na folha em branco, que é o candidato, as preferências dos eleitores.
No final das contas, o candidato se torna um reflexo servil das expectativas dos eleitores; um fantoche, portanto, à mercê do eleitorado.
(O mandamento número 1 do marqueteiro é "não contrarie o eleitor").
E você, o que acha que falta dizer sobre marketing político?

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Agnulo?

Domingo deve dar Agnelo já no primeiro turno.
Melhor assim.
Uma volta de Roriz, seja qual for o prenome, seria insuportável.
Mas o Agnelo do governo tem que ser diferente do Agnelo da campanha.
Na campanha, Agnelo seguiu à risca o manual do marketing.
A ponto de se despersonalizar.
Às vezes, pareceu mais um boneco.
Até mudou a voz e o sorriso.
No governo vai ter que mostrar personalidade, visão política, capacidade de comando.
Do contrário, será engolido por petistas, peemedebistas e quem mais chegar junto.
E você, o que acha que falta dizer sobre as eleições no DF?

Batata quente e gelo

O Conselho Nacional de Educação quer rever as Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino médio.
Uma questão, entretanto, passa ao largo: não é especificamente na escola, mas no todo da cultura que se cosntroem e transmitem as bases dos conteúdos escolares.
Assim, uma escola bem-sucedida em preparar pessoas para o mercado de trabalho está, normalmente, inserida em um ambiente que valoriza o mérito e a qualificação para o mercado.
Do mesmo modo, uma escola bem-sucedida em transmitir conteúdos humanísticos está, normalmente, inserida em um ambiente que valoriza o humanismo.
Na mesma linha, uma escola bem-sucedida em formar leitores está, normalmente, inserida em um ambiente que valoriza a leitura.
Reformar os currículos? Ok, nada contra.
Mas reparem: nossa sociedade valoriza pouco o estudo e o trabalho, certo?
Também não somos grande coisa em valores humanísticos e responsabilidade social, certo?
Tampouco valorizamos, na medida certa, a leitura, certo?
O que significa que, enquanto transferirmos para a escola a batata quente das grandes tarefas de nossa cultura, estaremos enxugando gelo.
E você, o que acha que falta dizer sobre educação?

Medo, medo

Quem é Serra tem medo do continuísmo político.
Quem é Dilma tem medo da descontinuidade econômica.
Quem é Marina tem esperança no novo.
Em 2002, Lula disse que a esperança venceu o medo.
Em 2010, o medo está ganhando, de goleada.
E você, o que acha que falta dizer sobre a esperança e o medo?

Ar carregado

Até ontem, Ayres Britto era o bruto aríete anticorrupção.
Já hoje, sua boa imagem, se não foi para os ares, foi duramente atingida.
Com mais essa, pode-se dizer que nenhum político, de um ano para cá, alimentou tanto o noticiário político-policial quanto Joaquim Roriz.
Caixa de Pandora, Weslian e essa agora.
Houvesse mais pudor republicano e o nosso bravo ministro já teria pedido afastamento.
E você, o que acha que falta dizer sobre nossa suprema corte?

Dois mil pesos

Se Dilma tivesse conversado por telefone com um ministro do Supremo durante processo de votação naquela corte, ela estaria aniquilada. Como foi o Serra...
Somente o Estadão bateu duro contra o antirrepublicano diálogo Serra-Gilmar, ocorrido no fogo do debate no STF acerca da documentação a ser apresentada no ato de votação.
Parabéns ao Estadão, que, com isso, fortaleceu sua imagem como jornal liberal.
Isso não quer dizer que os outros jornais não tenham razão ao repecurtir denúncias sobre quebra de sigilo na Receita e corrupção na Casa Civil.
E você, o que acha que falta dizer sobre a cobertura da mídia nestas eleições?

Vingança

Ainda não sabemos quem vencerá as eleições presidenciais. Mas já sabemos qual será a marca do próximo governo: vingança!
Dilma se vingará dos ataques desferidos pela grande mídia.
Serra se vingará das violações de sigilos y otras cositas más.
Para eles, tudo bem. Uns e outros, petistas e tucanos, sobrevivem à custa dessa guerrinha há muitos anos.
E nós, como ficamos?
E a democracia brasileira?
Na caça às bruxas que se prenuncia, besta é quem ficar no meio do fogo.
E você, o que acha que falta dizer sobre as perspectivas do próximo governo?

Identidade

O debate de ontem foi o conflito de dois gerentões, Dilma e Serra, com uma aspirante a estadista (põe aspirante nisso), Marina, tentando correr por fora. Plínio, claro, não conta.
Dilma e Serra se concentraram em propostas específicas para o presente; Marina fez uma abordagem mais geral e, infelizmente, genérica sobre o futuro.
Mesmo assim, sou Marina, pela sua tentativa de ser uma abridora de futuro. Nada, nada, pode vir a contribuir para uma necessária terceira via em um país fatigado da guerrinha PT X PSDB.
E você, o que acha que falta dizer sobre o debate de ontem?