pouco se fez

remando contra

perdido de vez

é que se encontra

absorvo

refino

estorvo

em hino

fim de luta

deito a carcaça

em terra bruta

cheia de graça

noite escoa

em nova aurora

carne boa

é a que devora

alinho em costura

forte

vida pura

& morte

chaga

aurora

morte esmaga

& revigora

truque

de vate

ser marduk

& tiamat

voz

de poeta

sol feroz

lua quieta

feliz

se casa

raiz

com asa

em choro

& riso

entoo teu coro

dioniso

verso silente

amalgama

semente

& chama

verso breve

vão

é outro que escreve

com minha mão

me acompanhe

a sina

colo de mãe

lança ferina

inferno & céu

de minha prosa

sou guerreiro cruel

& mãe generosa

de dúbia semente

nasceu o que sou

titã imprudente

deus vingador

no que me invento

me desfaço

sou monumento

em pedaços

torto

de nascituro

tormenta é meu porto

seguro

verso vivo

sem riso ou pranto

sem motivo

eu canto

sopro imenso

me varreu

o que penso

é maior que eu

tormento

graça

o que experimento

me ultrapassa

labirinto

imenso

o que sinto

& penso

mosaico

de céu & inferno

meu verso arcaico

& moderno

dança

que em mim demora

ser criança

não tem hora

luz do levante

cegueira

minha pena errante

& certeira

de ruído

canto

caído

levanto

fraco

moribundo

de meus cacos

faço um mundo

meu verso dança

& transpira

em mansa

ira

persigo

minha estrela d'alva

correr perigo

me salva

verso vão

mão provecta

solidão

me conecta

meu canto

é augúrio

santo

& espúrio

feliz

me inauguro

sem raiz

ou futuro

retorno a mim

em mudo

sim

a tudo

tudo dança

& murmura

em mansa

fervura

do que a vida me deu

muito me apraz

ser eu

& tudo mais

repleta

de folias

me completa

noite vazia

desenlace

maroto

pureza nasce

de esgoto

dança

no vão da vida

minha esperança

incontida

imenso prazer

me desfez

é bom morrer

mas não de vez

me atiro em declive

ressurjo à tona

tem gente que vive

& quem só funciona

ferida exposta

juntas

minhas respostas

não dão uma pergunta

me desfaço

mudo

em cansaço

de tudo

me limito

ao que não tem fim

infinito

cabe em mim

me convida

nova deriva

da vida

intransitiva

por mais que me custe

a carne & o couro

este desajuste

é meu pote de ouro

teia vazia

frágil meada

a gente se fia

em fios de nada

mais velha a desdita

melhor ressoa

a lembrança acredita

que a vida era boa

o que sou

meu verso anuncia

pleno vigor

& deriva vazia

velha sina

pedra cantada

tudo termina

em nada

                            outro pra narlan

descalabro

vige em meu centro

meu coração só abro

por dentro

                                                 para Narlan Teixeira 

se consagre

verdade primeira

não se marca milagre

pra segunda-feira

em minha senda

sigo inerte

nada há que me prenda

ou liberte

livre estado

de quem em si se prendeu

ando muito ocupado

em ser eu

longe de céu

em terra escura

sigo fiel

a minha loucura

em vida que esbanjo

em meio à modorra

não encontro anjo

que me socorra

me salva no final

antes de me acabar

mão providencial

que não está lá

anuncio

o que não tem ouvidos

canto a céu vazio

& chão destruído

sagrado à deriva

nada 

captura

minha sagrada

escritura

fissura

me faz inteiro

nas alturas

do desespero

tormenta que avaria

barco frágil

às vezes travessia

 é naufrágio

chão me consumia

o corpo inteiro

às vezes travessia

é atoleiro

caminho árduo

sem portal

suporto fardo

descomunal

sintonia fina

precisa

tudo me ensina

nada me escraviza

de novo me invade

o que já tenho guardado

de antigas divindades

sou novo tablado

luz & treva

em boda rara

chão se eleva

céu se escancara

no que se leu

em meu caderno

o tempo cedeu

ao eterno

                                                      à memória de Karl Kerenyi

portal

do sem fim

vida imortal

pulsa em mim

desde o começo

meu compromisso

permaneço

insubmisso

submisso

a nobre dever

meu compromisso

desobedecer

sob luas & sóis

vagando a esmo

sou herói

de mim mesmo

misto de furor

& paz

isto que sou

não morre jamais

retorno do absurdo

sem sequela

a lama em que chafurdo

me remodela

tarde ou cedo

retorno em auê

sou brinquedo

de renascer

do desespero

de mil desertos

retorno inteiro

de perto aberto

me religo

em toque fecundo

encosto meu umbigo

no umbigo do mundo

em mal que vingou

& dor que corrói

espreita o vigor

do herói

agonia

derrisória

dor anuncia

glória

retorno mais forte

no que me descarto

pra cada morte

novo parto

sigo

sozinho

sou abrigo

& caminho

sozinho

comigo

sou caminho

& abrigo

america

santo solo

rara aura

o chão em que me imolo

me restaura

cena

que invento

é sem pena

& alento

abismo sem fundo

distância sem fim

as coisas do mundo

as vozes em mim

de nada

tanto

em terra arrasada

encanto

agonia

nova aurora

mundo principia

agora