terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Afobados da tecnofobia

Uma criança diz que um jogo é chato quando ainda não consegue jogá-lo muito bem ou, quando é um jogo de disputa, raramente derrota os adversários.
Isso me lembra a relação negativa que muitas pessoas mantêm com a tecnologia.
O jogo da tecnologia é um jogo frenético e pesado.
O trabalho é exaustivo, os vencedores são poucos.
Ao que parece, nos países que ocupam as primeiras posições na corrida tecnológica, o apreço pela tecnologia é mais amplamente disseminado.
Parece, por sua vez, que nos países retardatários há mais gente que maldiz a tecnologia.
Esse maldizer frequentemente atinge também a matemática.
Entre os intelectuais europeus, cujos países se atrasaram na corrida tecnológica ou nos quais a tecnologia teve sua imagem associada a catástrofes humanas, como o nazismo, desenvolveu-se vigorosamente o que podemos chamar de tecnofobia.
O discurso tecnofóbico correlaciona matemática e tecnologia com alienação. Ambas seriam parte de uma razão instrumental ou objetal, em que tudo, até as próprias pessoas, são reduzidas à condição de instrumentos ou objetos.
Instrumentos ou objetos de quem?
Da alienação politica, econômica, cultural.
A alienação, em todas as suas dimensões, se valeria de tudo,e sobretudo das pessoas, para a sua autorreprodução e incremento.
A alienação seria um monstro anônimo a comandar e manipular as pessoas.
Sou uma pessoa da literatura e da filosofia.
Minha intimidade com a tecnologia tende a zero.
E confesso: já fui, em certa medida, um adepto do discurso tecnofóbico.
A tecnofobia deixei pra trás; a literatura e a filosofia estão sempre comigo.
Hoje acredito que, enquanto a tecnofobia for muito forte entre nós brasileiros, ela se manterá atuando como uma bola de ferro atando nossos pés ao atraso.
O jogo da tecnologia é um jogo como outro qualquer: pode ser bom, pode ser ruim, a depender de como se jogue.
Podemos jogar bem o jogo da tecnologia, e podemos jogá-lo para o bem.
O discurso da criança intimidada, que maldiz o jogo porque ainda não o domina, não pode mais ser o nosso.
Bem examinado, ela soa a chororô de retardatário.
Quanto a mim, me sinto muito bem, expondo meu pensamento a pessoas que se encontram a milhares de quilômetros distantes de mim, graças ao funcionamento complexo e integrado de um punhado de aparelhos de alta tecnologia, cujo funcionamento eu não compreendo.
E, pra você, o que falta dizer?

2 comentários:

  1. Falta dizer que a tecnofobia também serve de "muleta" para muita gente... Parabéns ao autor pela abordagem corajosa do tema!

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  2. mulas de muleta?

    ah! ontem na Folha um articulista tentou desdizer-se ou explicar-se, a propósito de artigo que publicou semana passada nesse jornal.

    eu acho q. o tal artigo era afetação tecnofóbica mesmo.

    enfim,...

    obrigado pelo comentário e gd bç.

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