sábado, 29 de janeiro de 2011

Pouso na poesia



xadrez da pérsia


não é essa procura
que se pensa
poesia é pura
indiferença







l'éternité


não é o que se pensa
ou procura
poesia é paz imensa
& tortura






giocco


não é o que se fez
peripécia
poesia é xadrez
da pérsia

& outro



procuro
tom raro
escuro
& claro

Mais um



casa do ser


projeto
mansão
sem teto
sem chão

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Poeminhas da quinta




herói


a cruz dos judeus
da turba o menoscabo
cordeiro de deus
solidão do diabo




viva deriva - 1



à toa
a remar
sou canoa
em alto-mar




viva deriva - 2


sem leme
em alto-mar
por mais que reme
não vou chegar





terça-feira, 25 de janeiro de 2011

5 novos poemas

I


não há quem se acostume
com meu odor
sou fragrância de estrume
& flor




II


me apontam o rumo
mas não me dirigem
só me aprumo
na vertigem




III

coisas que passo
já não me afligem
perdi o cabaço
& ainda sou virgem




IV


desassossego
da breve hora
nem bem chego
já fui embora




V


intransigente eu
não tolero crendice
nem tolice
de ateu

sábado, 22 de janeiro de 2011

Mais poesinha, no sabadão




I


sem escolta
retorno ao pó
dou meia volta




II


dolce vita


sem demora
quem trouxe
o doce
me leva embora

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

5 poemínimos

I


a cor evapora
fica o breu
pintou aurora
escureceu




II


luzinha de nada
quase breu
bela alvorada
sou eu




III


esquizo
eu
sou dioniso
& penteu




IV


esquisito
eu
imito o mito
de prometeu




V


bem me lavo
já tô sujo
sou cão bravo
& sabujo

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

mais três...

I


antiga
cantiga
sou
o que soo
no fim me vence o
silêncio




II

sempre me esqueço
em dia ruim
melhor um começo
que todo o fim




III


divertida
a breve estrada
percorre a vida
antes de mais nada

mais micropoema na quarta




solução magnífica
o ser perece
a prece
fica

3 micropoemas

I


enquanto cismo
daqui de cima
o abismo
se aproxima




II


no compasso
da cuíca
só eu passo
o samba fica




III


feia esfinge
belo mito
a vida finge
eu acredito

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

e tome poesia

I


menipo

uma regra vigora
no mundo
quem salta fora
cai mais fundo




II


rouxinol triste
pateta
tristeza é alpiste
de poeta

It"s raining poetry...




I


fria consorte
cria querida
casei com a morte
pari a vida




II


não tiro vírgula
sou misto
de cristo
& calígula




III


igual a agave
preso na loucura
perdi a chave
& a fechadura

mais dois micropoemas




I


linha torta
no meu caderno
abri a porta
do inferno




II


não chamo o mundo
nem sou chamado
sou poço fundo
tapado

chevy chase from the window - 3

escuridão
garoa
sou o sonho vão
de um deus à-toa

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Segunda de poesia




desvalida
feliz
toda vida
é por um triz

Mais um poeminha inédito na segundona




entre tarde e cedo
aqui e além
sou vago enredo
escrito por ninguém

2 poemitos inéditos




I


chevy chase from the window - 1


cai a neve
persiste o frio
sou o sonho breve
de um deus vadio




II


chevy chase from the window - 2


o frio persiste
no dia em repouso
sou o sonho triste
de um deus ocioso

domingo, 16 de janeiro de 2011

Outro poema inédito neste domingão






fogo médio
opaco
baixou o tédio
caí no vácuo

5 poemas inéditos




I


céu por cima
inferno em baixo
achei a rima
só não me acho




II


verbo travado
olho baço
primeiro enfado
depois cansaço




III


carne impura
alma pênsil
agora agrura
depois silêncio




IV


verbo distante
de sul & norte
sou militante
da morte




V


o véu não caiu
não houve catarse
solte o assobio
disfarce

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

2 poemas inéditos

I

old news

fui de tudo isento
livre do novo que havia
só tive por enchimento
a velha alma vazia






II

old friends

carne informe
lâmina algoz
o que em mim dorme
vela por nós

domingo, 9 de janeiro de 2011

Equidade, evidentemente

Não sou a favor da existência de ministérios voltados à promoção da equidade para as mulheres e para as "raças".
Ora, se o objetivo é lutar pela equidade, deveríamos ter um Ministério da Equidade, que daria conta das políticas de superação de todas as formas de iniquidade, não somente aquelas que atingem mulheres e algumas "raças", especialmente a negra.
Mas o senso comum e um certo comodismo (e por que não dizer também oportunismo?) ideológico dizem que as mulheres e os negros sofrem mais iniquidades que quaisquer outros segmentos.
Um formulador de políticas consciente deve saber que as políticas públicas precisam se basear em evidências consistentes.
A convicção de que as mulheres e os negros, mais que outros segmentos, precisam de políticas pró-equidade baseia-se mais em opinião e ideologia do que em evidências.
Quem lê este blog (e quem lia o Sparagmós) sabe, por exemplo, como tenho chamado a atenção para as iniquidades que pesam sobre homens jovens e adultos.
A bem da verdade, um Ministério da Equidade não é necessário.
O que é necessário, acredito, é algo como um radar da iniquidade, que poderia estar abrigado no IBGE ou no IPEA.
Esse radar produziria estudos consistentes a serem enviados à mídia e a cada um dos ministérios, à Presidência, ao Congresso Nacional etc.
Com base nesses estudos, o país deveria produzir, como lei, um plano anual e um plano plurianual de promoção  da equidade, com a definição das principais frentes de combate à iniquidade.
A nova abordagem superaria a ênfase na defesa deste ou daquele segmento em prol de outro foco: a construção de uma sociedade equânime, atenta ao surgimento, desenvolvimento e cristalização de toda e qualquer forma de iniquidade socialmente relevante.
Com base em evidências, talvez viéssemos a descobrir que o caminho da equidade nem sempre coincide com aquele ditado pelo senso comum e pela ideologia.
E, pra você, o que falta dizer?

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O presidente ululante

Lula é para o Brasil o que Mandela e Napoleão são para a África do Sul e a França, ou seja, um líder que simboliza a passagem de uma sociedade de poucos para uma sociedade de todos.

Por que Lula?

1) por causa de seu passado de luta política e socioeconômica.
2) porque, graças em parte a seu governo, o país de fato avançou na igualdade.
3) porque ele expressa e elabora como poucos o sentimento de redenção do país e do povo.
4) porque se apossou ilegitimamente de méritos alheios e a população lhe dá crédito.
5) porque veio de baixo e manteve traços culturais dos "de baixo".
6) porque seus deméritos, que não são poucos, foram perdoados pela parte da população que anseia, antes de qualquer outra coisa, por oportunidades econômicas.

Ainda não é claro se o Brasil irá continuar pelo tempo necessário no caminho do crescimento econômico e da igualdade social.

Mas é claro que Lula é uma figura de raro destaque nesse longo processo.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Gramática do pragmatismo

Algumas pessoas se dizem pragmáticas.
Mas é possível ser pragmático de maneiras distintas.
Pragmático é alguém que busca um certo resultado e pauta por essa busca seus principais esforços.
O primeiro desafio de uma pessoa pragmática é definir o mais claramente possível o resultado ou resultados a serem alcançados.
Os atuais governantes do Brasil podem ser consideradas pessoas pragmáticas.
Além de pragmáticas, são bem sucedidas.
Isso significa que, além de definir com clareza seus resultados, conseguiram alcançá-los, ao menos parcialmente.
Que resultados são esses?
Ganhar as eleições presidenciais, cumprir o primeiro mandato e o segundo mandato e fazer o sucessor.
O que mais?
Realizar, na medida do possível, às vezes só na retórica, às vezes também na prática,  um governo antineoliberal e anti-imperialista.
O que mais?
Fazer da máquina estatal e paraestatal uma estufa para a criação e procriação de uma poderosa burocracia autoritária e antirrepublicana.
Os dois primeiros resultados foram plenamente alcançados; o terceiro, mais improvável num país democrático, foi apenas parcialmente alcançado.
Os brasileiros pagaram um preço para que os atuais governantes conquistassem suas vitórias.
Por outro lado, auferiram benefícios.
São estes, os benefícios, que falam mais alto neste momento.
Ao apoiar o atual grupo dirigente, os brasileiros consideram que estão sendo pragmáticos. Queriam mudar de vida e elegeram um grupo que promoveu uma mudança, sob aspectos socioeconômicos, para melhor, embora muita da mudança que atualmente vivemos não possa ser creditada a esse grupo.
E, diante da falta de alternativas no atual espectro político do país, é difícil convencer a maioria das pessoas de que tudo poderia ser muito melhor.
Mas caminhos muito melhores são sempre caminhos muito difíceis.
Este blog é um espaço para o cultivo desse caminho.
O Brasil merece algo muito melhor do que os seus atuais governantes podem oferecer.
O Brasil pode praticar um outro pragmatismo.
E, pra você, o que falta dizer?
E, pra você, o que falta dizer

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Afobados da tecnofobia

Uma criança diz que um jogo é chato quando ainda não consegue jogá-lo muito bem ou, quando é um jogo de disputa, raramente derrota os adversários.
Isso me lembra a relação negativa que muitas pessoas mantêm com a tecnologia.
O jogo da tecnologia é um jogo frenético e pesado.
O trabalho é exaustivo, os vencedores são poucos.
Ao que parece, nos países que ocupam as primeiras posições na corrida tecnológica, o apreço pela tecnologia é mais amplamente disseminado.
Parece, por sua vez, que nos países retardatários há mais gente que maldiz a tecnologia.
Esse maldizer frequentemente atinge também a matemática.
Entre os intelectuais europeus, cujos países se atrasaram na corrida tecnológica ou nos quais a tecnologia teve sua imagem associada a catástrofes humanas, como o nazismo, desenvolveu-se vigorosamente o que podemos chamar de tecnofobia.
O discurso tecnofóbico correlaciona matemática e tecnologia com alienação. Ambas seriam parte de uma razão instrumental ou objetal, em que tudo, até as próprias pessoas, são reduzidas à condição de instrumentos ou objetos.
Instrumentos ou objetos de quem?
Da alienação politica, econômica, cultural.
A alienação, em todas as suas dimensões, se valeria de tudo,e sobretudo das pessoas, para a sua autorreprodução e incremento.
A alienação seria um monstro anônimo a comandar e manipular as pessoas.
Sou uma pessoa da literatura e da filosofia.
Minha intimidade com a tecnologia tende a zero.
E confesso: já fui, em certa medida, um adepto do discurso tecnofóbico.
A tecnofobia deixei pra trás; a literatura e a filosofia estão sempre comigo.
Hoje acredito que, enquanto a tecnofobia for muito forte entre nós brasileiros, ela se manterá atuando como uma bola de ferro atando nossos pés ao atraso.
O jogo da tecnologia é um jogo como outro qualquer: pode ser bom, pode ser ruim, a depender de como se jogue.
Podemos jogar bem o jogo da tecnologia, e podemos jogá-lo para o bem.
O discurso da criança intimidada, que maldiz o jogo porque ainda não o domina, não pode mais ser o nosso.
Bem examinado, ela soa a chororô de retardatário.
Quanto a mim, me sinto muito bem, expondo meu pensamento a pessoas que se encontram a milhares de quilômetros distantes de mim, graças ao funcionamento complexo e integrado de um punhado de aparelhos de alta tecnologia, cujo funcionamento eu não compreendo.
E, pra você, o que falta dizer?

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Sobre líderes e lideranças

O que é peculiar ao histórico dinamismo econômico dos Estados Unidos?
Uma combinação feliz entre os seguintes fatores:

1) inventividade científico-tecnológica em larga escala;
2) empreendedorismo;
3) propensão de muitos donos do dinheiro a investimentos de risco;
4) investimento em marketing, como um sistema composto de estratégias de venda, que inclui, mas não se resume à propaganda;
5) fortíssima propensão ao consumo;
6) prestígio da busca pelo enriquecimento amplamente disseminado na sociedade.
7) aversão ao parasitismo estatal, expresso no forte controle da mídia e dos cidadãos sobre os políticos e os governos.

Obviamente, o sistema moldado por essa combinação não é perfeito nem totalmente coerente.

Ele não consegue, por exemplo, evitar que a especulação financeira acabe drenando recursos que poderiam entrar no circuito de inventividade, empreendedorismo, investimento de risco etc.

Não consegue, também, impedir o parasitismo dos programas militares.

Tampouco é um sistema baseado unicamente em iniciativa privada, já que o Estado norte-americano pratica o protecionismo a setores menos competitivos de sua economia.

Por último, no rol das ressalvas, esse não é um sistema que se vale somente de processos econômicos:  ele já se beneficiou inímeras vezes da intervenção imperial, via chantagem ou intervenção bélica e via conspiração política internacional para frustrar interesses econômicos concorrentes.

Apesar das ressalvas, a combinação de fatores que ainda constitui o dinâmico sistema norte-americano trouxe os EUA à liderança econômica mundial.

Os países que desafiaram os EUA no passado (Alemanha, Japão, Rússia) não se caracterizavam pelo mesmo dinamismo.

Os países que desafiam os EUA no presente, apesar do impressionante vigor chinês, não se caracterizam pelo mesmo dinamismo.

Pode ser que, por isso, venham a fracassar, como ocorreu com os antigos desafiantes.

Muitos creem, inversamente, que chegou a vez da China; dizem que o poderio dos EUA está em rápido declínio e que em poucas décadas o poder econômico mundial terá mudado de mãos.

Como, para alcançar a liderança, terão se pautado por outro modelo, isso implicará não somente que o mundo terá novo líder, mas terá também outro jeito de liderar - menos dinâmico, menos transparente, mais autoritário, mais estatal.

E, pra você, o que falta dizer?