sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A aldeia e a cidade

Na aldeia, a Palavra.
Na cidade, palavras.
Na aldeia, o sagrado originário.
Na cidade, o profano e os sagrados vicários.
Antígona é um médium da Palavra.
Por isso, é sábia.
Agave é um médium da Palavra.
Por isso, é louca.
Essa migração do sentido da Palavra, da sabedoria para a loucura, marca a passagem de Sófocles, autor de Antígona, para Eurípides, autor de As Bacantes.
Sófocles quer que a Palavra perdure.
Eurípides quer que as palavras proliferem.
Sófocles é a nostalgia do encanto da aldeia.
Eurípides, a alegria modesta da cidade.
Sófocles prenuncia Heidegger.
Eurípides, Deleuze.
Não acho possível me desgarrar do arcaico Sófocles.
E me identifico tanto com o desencantado Eurípides.
Por isso não leio Antígona sem ler As Bacantes.
E não leio As Bacantes sem ler Antígona.
E você, o que acha que falta dizer Palavra e palavras?

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