terça-feira, 26 de outubro de 2010

Tão rude, tão belo

Sócrates buscava a Verdade.
Os sofistas construíam verdades.
O método de Sócrates: a dialética.
A arma dos sofistas: a retórica.
O contato de Sócrates com os deuses era o dáimon.
O contato dos sofistas com o mundo eram as aulas.
O médium da Verdade é necessariamente rude; essa rudeza fica clara quando acusamos alguém, nos dias de hoje, de "dono da Verdade". O dono da Verdade rudemente nos cassa o direito de construir verdades.
O construtor de verdades é necessariamente erudito, pois, como não se apoia no daimon ou nos deuses, precisa se valer do conhecimento construído por outras pessoas. O construtor de verdade nos enreda em um emaranhado de conhecimentos e verdades e nos desencanta da possibilidade de mirar a Verdade.
Sócrates ensejava a abertura ao divino, que era, ao mesmo tempo, natural.
Os sofistas produziam sofisticações, que eram, por isso mesmo, artificiais.
A abertura ao divino tinha a sua graça.
As sofisticações, a sua beleza.
Não posso deixar de pensar, no contexto desta eleição, que um pastor que deblatera contra o aborto está para Sócrates, assim como um marqueteiro que traça a estratégia discursiva do candidato está para um sofista.
Porém, também não posso deixar de pensar que falta muito para o tal pastor recuar até a graça do rude Sócrates, assim como falta muito para o marqueteiro avançar até a beleza do gorgeous Górgias. 

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