quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Boys don't cry (1)

No início da década de 1980, Gabeira publicou seu segundo livro, O crepúsculo do macho.
Não me lembro de quase nada do livro, mas o título me parece atualíssimo.
O macho é o homem pré-século XIX, pré-revolução industrial, pré-fusão da ciência com a tecnologia.
O pós-isso tudo ensejou outra masculinidade: viril, sim, mas também intelectualizada, técnica, politizada, polida, delicada.
Porque o macho não dá conta dos novos aparatos e relações.
A vida mudou, mas não avisaram milhões e milhões de machos brasileiros, sobretudo os mais pobres, enredados num mau primitivismo de álcool, acidentes de trânsito, sexo inseguro, trabalho braçal, procriação irresponsável, bala e faca.
O macho já foi o herói da sociedade.
Mulheres, crianças e velhos se beneficiaram de suas performances calcadas na honra e na força bruta.
Esse tempo, porém, passou.
Pode até ser bem-vinda alguma macheza, desde que não exercida muito ao pé da letra.
Afora algumas mulheres muito primitivas, ninguém mais admira o velho machão.
Quem perde com esse anacronismo?
Quem está por perto dos defasados machões, lógico. Eles são perigosos.
Isso todo mundo percebe.
Mas o que quase ninguém percebe é que esses homens à moda antiquíssima estão precisando de ajuda.
Ou seja, eles não são somente vilões, são também vítimas da velha cultura machista.
Essa velha cultura os transforma em verdadeiros obsoletos sociais, e eles, somente com suas próprias forças, não são capazes de se libertar dela.
Não vi nesta campanha eleitoral ninguém, rigorosamente ninguém, falar sobre esse segmento social, que necessita desesperadamente de ajuda social e estatal.
Eles fazem parte do que Álvaro de Campos chamou de "fauna maravilhosa do fundo do mar da vida", para quem nenhuma política foi feita.
E você, o que acha que falta dizer sobre esse gênero de problema?

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