domingo, 17 de outubro de 2010

A cidade e a máscara

Platão tinha esse apelido porque era um omoplatão: cara forte de ombros largos.
Sua filosofia, conforme exposta em A República, concedia privilégio político aos mais fortes, contanto que fossem os mais inteligentes.
Os mais fortes e mais inteligentes eram os nascidos mais fortes e inteligentes.
Assim, a liderança política era exercida segundo o critério aristocrático da eugenia.
Visto sob a luz de uma moderna concepção republicana, isso era sem dúvida detestável.
Mas a política segundo Platão tinha uma ênfase admirável: a busca do melhor para a cidade e os cidadãos.
O nome Machiavel é quase o adjetivo maquiável.
Sua filosofia, conforme exposta em O Príncipe, concedia privilégio político aos mais argutos na busca por conquistar, manter e transferir o poder político.
Era na prática que se deveriam revelar os mais argutos.
Assim, pelo menos no modo como seria interpretada posteriormente, a liderança política seria exercida segundo o critério democrático do mérito concretamente aferido.
Visto sob a luz de uma moderna concepção democrática, isso é sem dúvida admirável.
Mas a política segundo Machiavel tinha uma ênfase detestável: a supervalorização da busca individual pelo poder, em detrimento da busca pelo melhor para a cidade.
O político platônico se apresenta como o melhor e se expressa francamente, sob a luz, que é dádiva do Sol.
O político maquiavélico se apresenta como candidato a melhor e se expressa dissimuladamente, sob uma máscara mutante, que é sua obra-prima.
Na vida moderna, a busca pelo melhor para a cidade deve se harmonizar com o direito de cada cidadão competir por um lugar ao sol na política.
Essa harmonia é o mais desejável numa política moderna e democrática dos tempos atuais.
E você, o que acha que falta dizer sobre a cidade e a máscara?

5 comentários:

  1. Esse foi láááá no fundo!
    Não me falta dizer nada, o que trago aqui é tão somente um comentário: gostei da idéia e das comparações. Até porque não tenho um conhecimento tão a fundo tanto de Platão como Machiavel.
    Mas saiba que seu texto só fomentou essa minha vontade de conhecê-los, obrigada!

    ResponderExcluir
  2. Caro, como a Lígia que me antecedeu não sou profundo em Platão (sem trocadilho com a caverna) e em Maquiavel. Mas o que eu entendi é que o seu texto está contaminado pela eleição presidencial, pois percebe-se refletidos nele um e outro candidato. O que o seu texto acabou de me dizer também é que não há como perceber quem está refletido em quem, pois que enquanto um é Platão e Maquiavel ao mesmo tempo, a outra é Maquiavel e Platão ao mesmo tempo. Acho que depois dessa deveríamos todos ir para Caruguraci. Parabéns pelo blog que está cada vez melhor.

    ResponderExcluir
  3. Há o mundo das ideias e o mundo das ações.
    O primeiro, essencialmente, Platônico.
    O segundo, especialmente, Maquiavélico ou maquiável (gostei da analogia!).
    "Real direito de cada cidadão competir por um lugar ao sol na política" está mais para o perfeito mundo das ideias.
    Minhas últimas leituras de M.Gleiser têm ajudado bastante a aceitar e até admirar as
    imprescindíveis imperfeições dos processos para o surgimento e evolução da vida (recomendo!).
    Pés no chão, Manoel! Pés no chão imperfeito!
    Ah, mas a cabeça pode sim cada vez estar mais próxima das perfeitas nuvens, claro!
    Sigamos perseguindo as nuvens e os astros, além delas...(rs)
    PK

    ResponderExcluir
  4. Sim, sim, peno no chão, daí minhas penas suporem penugens que me projetem no ar (insustentavelmente leve). Obrigado, PK (pecado não conhecê-lo ou la, além de sua boa má-scara). obrigado, Ligia, obrigado, Joaquim. Falta dizer que suas presenças sempre aquecem este blog. Todos para Caruguraci!!!

    ResponderExcluir
  5. http://www.cartacapital.com.br/politica/o-caluniador-figura-da-barbarie

    ResponderExcluir