quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Distorcida torcida

Brasileiro adora discutir futebol.
Porque gosta de futebol.
Porque é passional.
Mas, de uns tempos para cá, a crônica futebolística se intelectualizou e, por isso, ficou mais chata.
E as discussões nos bares, na escola, no trabalho, em casa, seguem o mesmo rumo: é análise tática pra cá, estatística pra lá e biografias, históricos etc.
Surgiu a figura do intelectual do futebol, aquele cara que tem time, sim, é torcedor, sim, mas nem tanto.
O intelectual do futebol reconhece com toda a franqueza e altivez as mazelas do seu time. Chega ao absurdo de dizer, quando é o caso, que quem merece o título é o time arquirrival.
Mas o brasileiro gosta de discutir.
O brasileiro é passional.
Se a paixão está perdendo espaço na discussão futebolística, que espaço então resta ao brasileiro para exercer sua passionalidade?
Que tal a política?
Que tal a sucessão presidencial?
Que tal então transformar o debate eleitoral num fanatismo obtuso, digno de torcidas organizadas?
Os mais velhos se lembram de Geraldo José de Almeida, uma espécie de locutor televisivo oficial do tempo do regime militar.
Os mais velhos se lembram do modo como ele narrava o gol.
Talvez não venha a ser tanta surpresa, caso se confirme o favoritismo da candidata petista, algum apresentador de TV anunciar sua vitória assim:
– Olha lá, olha lá, olha lá, olha lá, no placar do TSE! Diiiiiiiiiiiiiiiilma, garota das alterosas e dos pampas, presideeeeeeeeeeeeeeeente do Brasil!

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