sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Bom dia, democracia (2)

O estabelecimento, na Constituição de 1988, de um Executivo superforte se assenta, culturalmente, em nossa tradição autoritária.
De 1988 para cá, essa superforça do Executivo tornou-se ainda mais forte.
A implantação do parlamentarismo poderia ter corrigido ou amainado essa superforça, mas a sociedade brasileira optou por manter o presidencialismo quase-imperial.
O PT foi um importante fator de manutenção do presidencialismo, precisamente porque queria, por meio do voto popular, chegar à Presidência e ter acesso aos superpoderes desse quase-império.
A história recompensou o PT generosamente; recompensou sobretudo o presidente Lula.
Na época de Collor, que veio a ser deposto por um processo de impeachment, o nosso Executivo já era superforte.
Como, então, foi possível destituir o quase-imperador?
A resposta é econômica e política.
Do ponto de vista econômico, Collor afrontou os interesses de importantes setores das elites, decepcionou setores da classe média e frustrou as expectativas dos "descamisados".
Do ponto de vista político, Collor nunca havia contado com os setores mais dinâmicos e organizados da sociedade.
Tampouco, teve a capacidade de cooptar e manipular o Legislativo, porque, embora o Congresso seja um órgão assujeitado, ele cobra um pequeno pedágio pelo seu assujeitamento.
Além disso, os principais veículos de comunicação que haviam ajudado Collor a se eleger, a partir de certo momento lhe retiraram o apoio.
Lula aprendeu a lição.
Do ponto de vista econômico, satisfez interesses imediatos de todos ou de quase todos os segmentos.
Os retornos políticos da gestão econômica ajudaram Lula a cooptar e manipular o Congresso.
Os setores mais dinâmicos e organizados da sociedade perderam dinamismo e capacidade crítica e aderiram em boa medida à máquina governamental.
Os principais veículos da mídia ou se distanciaram de Lula ou mantiveram uma postura de crítica, às vezes, feroz; isso se revelou insuficiente, diante do amplo reconhecimento obtido pelo governo na área econômica e do adesismo das organizações populares. Além do mais, Lula sempre ou quase sempre contou com importantes veículos do chamado segundo time da grande mídia escrita e televisada.
Collor teve seu escândalo de corrupção e caiu.
Lula também teve o seu, mas, em vez de cair, se fortaleceu e conseguir fazer como sucessora uma mulher até há pouco tempo completamente desconhecida do eleitorado brasileiro.
No entanto, não foi apenas Lula que saiu mais forte.
O Executivo, como superpoder, tornou-se ainda mais poderoso.
O povo brasileiro, em conformidade com sua longa tradição autoritária, reafirmou não meramente o "é a econômica, estúpido" ou o terrível "rouba, mas faz", mas, ao lado desses, o autoritário "quem manda mesmo é o presidente".
Depois eu continuo.
E, pra você, o que falta dizer?

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