sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Força estranha, texto estranho

Comecei a estudar literatura pra valer com 26 anos de idade.
E comecei bem, estudando Machado e Pessoa.
Li obras críticas e teóricas que tratavam desses autores; porém, mais que ler sobre Machado e Pessoa, li um e outro com paixão e zelo intelectual.
Aos 16, na falta de dinheiro para sair de férias, havia passado um janeiro inteiro em Brasília.
Como forma de ocupar meu tempo, li obras literárias; como tinha muito tempo, li muitas obras - de Shakespeare, Molière, Stendhal, entre outras.
Mas, por limitações de vocabulário e ausência de intimidade com o texto literário, entendi muito pouco do que li.
Apesar disso, de algum modo, eu senti, ou julguei sentir, a força daqueles livros.
Foi essa mesma força que experimentei dez anos mais tarde com Machado e Pessoa.
E ela retornou no contato com Sófocles, Eurípides, Calvino, Rosa, Graciliano, Clarice, Mann, Borges, Baricco, Carrèrre.
E transbordou da leitura para a vida.
Há pouco tempo, depois de concluir o doutorado em Teoria Literária, decidi dar um tempo das obras literárias e me dedicar à leitura de livros de História, Economia e Política.
Leio também  todos os dias pelo menos um jornal, do Brasil ou daqui dos Estados Unidos.
Tenho meus motivos para haver abandonado a leitura de obras literárias, que, para todos os efeitos, continuam válidos.
Mas quando leio sobre o Império Romano, ou a história política e econômica da exploração, comercialização e aplicação do petróleo à vida moderna, ou o conceito de vantagem comparativa, ou a formação da equipe de Dilma, ou as agruras de Obama, ou o sistema partidário brasileiro - em nenhum desses momentos, em nenhuma dessas leituras, eu sinto aquela força.
Uma força cuja falta eu decidi por ora suportar.

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