quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Dilema de Dilma

Até 2007, economistas pró-mercado e pró-Estado concordavam num ponto: para crescer, o Brasil precisa tornar sua economia internacionalmente mais competitiva.
Uns e outros concordavam que, para isso, era preciso aumentar a taxa de investimento da economia.
Discordavam, porém, acerca do caminho para aumentar a competitividade e o investimento.
Os economistas pró-mercado defendiam a redução da carga tributária, o que liberaria o setor privado para investir em aumento e modernização da capacidade produtiva; defendiam também forte redução dos gastos correntes da máquina pública, o que liberaria o Estado para investir em educação e infra-estrutura.
Os economistas pró-Estado defendiam a desvalorizção do real, com vistas a tornar mais competitivos internacionalmente os preços dos nossos produtos industriais e redução da taxa de juros, de modo a favorecer os investimentos produtivos, em detrimento dos especulativos.
Lula desdenhou do aumento da competitividade internacional de nossa economia como via para acelerar o crescimento econômico.
Desdenhou também do aumento do investimento.
O que ele fez?
Valeu-se do relativo sucesso que o país já vinha obtendo com o extraordinário aumento das vendas de nossos produtos primários, sobretudo para a China; isso, juntamente com a enorme disponibilidade de crédito no mercado internacional, nos garantiu uma folga confortável em nossas contas externas.
Foi essa folga que permitiu a Lula turbinar o mercado interno, com a expansão do Bolsa-Família, o aumento do crédito e o aumento real do salário-mínimo.
O crescimento do mercado interno fez o Brasil crescer mais rápido, sem aumento da nossa competitividade internacional e sem aumento significativo da taxa de investimento da economia, que eram as duas pré-condições, segundo os economistas, para a aceleração do crescimento.
Lula deixou os economistas falando sozinhos ou brigando uns contra os outros.
E, por um breve instante histórico, todos silenciaram para observar o sucesso de Lula, que havia prometido anos antes “o espetáculo extraordinário do crescimento”.
Mais: esse crescimento ocorreu com inclusão econômica e redução das desigualdades.
Tem até economista escrevendo artigo dizendo que Lula estava certo e que os economistas estavam errados.
Se a prática é o critério da verdade, o sucesso de Lula atesta que ele não estava totalmente errado.
Atesta também que ele é um supercraque do jogo político.
Tanto é que ele deixa a Presidência com índices impressionantes de aprovação popular.
Ocorre, porém, que os economistas também tinham razão.
E, me parece, tinham mais razão do que Lula.
O sucesso do país, inclusive na área social, não perdurará sem aumento da competitividade internacional e aumento da taxa de investimento.
Pior: cedo ou tarde, começaremos a perder boa parte do que conquistamos, em termos de crescimento e inclusão social.
Lula foi, portanto, tremendamente irresponsável ao desdenhar dos conselhos dos economistas e ao vender para o país a ideia de que está tudo dando certo.
Lula sacudiu a economia e a sociedade brasileira no curto prazo e garantiu seus 90% de aprovação.
Não deixa para Dilma um país; deixa, sim, um problemão.
Vejam bem que o nome Dilma é quase o substantivo dilema.
Ela hoje talvez se pergunte: faço uma gestão econômica que o Brasil requer e merece ou tento prolongar a mágica lulista?
Ou será que ela, da mesma forma que o minério de ferro e as commodities agropecuárias salvaram Lula, acha que o pré-sal irá salvá-la?
E, para você, o que falta dizer?

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