quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Os apelos do pelo menos

O Brasil já foi chamado de país do "tudo bem".
A coisa tava ruim, mas a gente se conformava e até fingia que não tava tão ruim assim.
Algumas vezes a gente reagia, de modo tosco, e, por isso, o Brasil foi chamado de país do "jeitinho".
A coisa tava ruim, mas a gente dava uma acochambrada e parecia que tava melhor.
Recentemente, a coisa andou dando uma melhorada, principalmente para os mais pobres.
Tá certo que boa parte dos méritos por essa melhora não é dos próprios brasileiros e se explica pela carona que o país pegou na nova locomotiva do mundo, no caso, a China.
O Brasil poderia ser a China, poderia ser uma das locomotivas do mundo.
Mas, para isso, teria que ter decidido, há algumas décadas, ser uma das locomotivas do mundo.
O Brasil não decidiu, há algumas décadas, ser uma das locomotivas do mundo.
O Brasil também não está decidindo, agora, ser uma das locomotivas do mundo daqui a algumas décadas.
Diante disso, como reage a maioria da elite brasileira, como reage a maioria das pessoas mais esclarecidas, como reage o governo?
Eu acho que os brasileiros deveriam estar chateados pelo fato de o Brasil, do ponto de vista do desempenho socioeconômico e educacional, não ser a China ou algum país dinâmico da Ásia do Leste.
E acho que deveríamos transformar essa chateação em energia e determinação para que, do ponto de vista socioeconômico e educacional, venhamos a ser, em algumas décadas, como a China ou algum país dinâmico da Ásia do Leste.
E acho que podemos ser até melhores do que alguns deles, porque podemos optar por um modelo de sustentabilidade ambiental.
No entanto, a reação da maioria da elite brasileira, a reação da maioria das pessoas mais esclarecidas, a reação do governo é de contentamento.
E, quando alguém mete o dedo na ferida dos problemas do país, quando alguém faz o alerta de que, se o país não tomar certas medidas e adotar certas posturas, daqui a algumas décadas ou mesmo antes, em vez de nos tornarmos uma nova locomotiva do mundo, podemos, sim, ser atirados para fora do vagão de carga, essas mesmas pessoas reagem assim, como um velho vinil arranhado:
- É, mas pelo menos, né? Mas pelo menos, né? Mas pelo menos, né?
Assim, o Brasil se tornou o país do "pelo menos".
Um país do "pelo menos" é um país que opta pelo menos.
E, pra você, o que falta dizer?

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