quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O pão da poesia

No Brasil, embora tenha havido um incremento significativo da leitura nos últimos anos, ainda se lê muito pouco.
Dessa pouco leitura, pouca é destinada à literatura.
Da pouca leitura destinada à literatura, pouquíssima é destinada à poesia.
Do pouquíssima leitura destinada à poesia, a maior parte se destina à poesia mais fácil.
E normalmente o leitor da poesia mais fácil está pouco interessado na poesia por ela mesma; o que ele busca ali é a ilustração eloquente e bela de um pensamento ou sentimento que ele já tem.
Pouquíssima relevância se reconhece ao poema como som e grafia dotados de personalidade própria, de um ser e dizer novo, que, com sua personalidade própria e novidade, intriga e reconfigura o mundo.
A rigor, pode-se dizer, no Brasil não se lê poesia.
Eu não vejo outra razão para ler poesia do que somente ler poesia.
Nesse sentido, eu diria, junto com um pensador francês, que a leitura da poesia é um ato intransitivo, um ato que se basta em si mesmo.
No entanto, com esse mesmo pensador francês, eu diria que essa intransitividade, quanto mais buscada e vivida, mais transborda para o todo da vida, tornando-a mais viva e, de certo modo, melhor.
Donde eu concluo: nós seríamos um povo melhor e um país melhor se lêssemos poesia; a poesia por ela mesma; poesia por poesia.
E, pra você, o que falta dizer?

2 comentários:

  1. Que alegria encontrar a poesia que sobra e transborda aqui. Aliás, é belo também o seu depoimento, há poucos dias, sobre a leitura de literatura (texto estranho coisa nenhuma, mas cheio de vida, o mais vigoroso texto deste blog). Simone

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  2. Adivinhe em quem eu pensei mais enquanto escrevia um e outro texto?

    td de bom.

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